quinta-feira, 30 de abril de 2015

As mais belas estações de comboio do mundo

.Toy train set e1336049920972 As 30 Estações de Trem Mais Bonitas do Mundo
Viajar de comboio foi durante muito tempo quase  a única ou a melhor opção de transporte .As estações eram frequentemente construídas com magnânimos orçamentos tendo em vista não só a sua funcionalidade, mas também a ostentação da riqueza e importância da respectiva  cidade e país.
Actualmente, muitas estações de caminho-de-ferro, além de  pontos de chegada e de partida durante uma viagem, são uma surpreendente  atracção turística .
Eis trinta e uma das mais belas estações espalhadas  pelo mundo.

#1 Estação Central de Antuérpia, Bélgica

Antwerp Central e1335973641916 As 30 Estações de Trem Mais Bonitas do Mundo

#2 Estação de Dunedin, Nova Zelândia

Dunedin Train Station New Zealand e1335973823313 As 30 Estações de Trem Mais Bonitas do Mundo

#3 Estação Central de Helsinque, Finlândia

Central Railway Station Helsinki Finland e1335974089931 As 30 Estações de Trem Mais Bonitas do Mundo

#4 Estação de São Bento, Porto, Portugal

Estacao trem Sao Bento As 30 Estações de Trem Mais Bonitas do Mundo

#5 Gare du Nord, Paris, França

Gare du Nord Paris France e1335974355430 As 30 Estações de Trem Mais Bonitas do Mundo

#6 Grand Central Station, Nova York, EUA

Grand Central Station New York City New York e1335974697269 As 30 Estações de Trem Mais Bonitas do Mundo

#7 Union Station, Los Angeles, EUA

Union Station Los Angeles1 e1335975214952 As 30 Estações de Trem Mais Bonitas do Mundo

#8 King’s Cross Station, Londres, Inglaterra

Kings Cross Station London e1335975800746 As 30 Estações de Trem Mais Bonitas do Mundo

#9 Estação de Sirkeci, Istambul, Turquia

Sirkeci Station Istanbul e1335976054515 As 30 Estações de Trem Mais Bonitas do Mundo


#10 Estação Ferroviária do Rossio, Lisboa, Portugal

Rossio Station Lisbon e1335976233993 As 30 Estações de Trem Mais Bonitas do Mundo

#11 Estação de Atocha, Madrid, Espanha

Atocha Train Station Madrid e1335976399855 As 30 Estações de Trem Mais Bonitas do Mundo

#12 Estação Central de Amsterdam, Holanda

Centraal Train Statuion Amsterdam e1335976831201 As 30 Estações de Trem Mais Bonitas do Mundo.

#13 Estação Chhatrapati Shivaji, Mumbai, Índia

Chhatrapati Shivaji Terminus India e1335976960907 As 30 Estações de Trem Mais Bonitas do Mundo

#14 Denver Union Station, Colorado, EUA

Union Station Denver e1335977490448 As 30 Estações de Trem Mais Bonitas do Mundo

#15 Halifax Railway Station, Inglaterra

Halifax Train Station Yorkshire England e1335978184985 As 30 Estações de Trem Mais Bonitas do Mundo

#16 Tren del Fin del Mundo, Ushuaia, Argentina

Ushuaia Station Tierra del Fuego e1336034973718 As 30 Estações de Trem Mais Bonitas do Mundo

#17 Estação de Kanazawa, Japão

Train Station Kanazawa e1336043903403 As 30 Estações de Trem Mais Bonitas do Mundo

#18 Estação Central de Maputo, Moçambique

Maputo e1336045183963 As 30 Estações de Trem Mais Bonitas do Mundo

#19 Estação de Haydarpasa, Istambul, Turquia

Haydarpasa Istanbul e1336045306607 As 30 Estações de Trem Mais Bonitas do Mundo

#20 Estação Central de Berlim (Hauptbahnhof), Alemanha

Berlin Hauptbahnhof e1336045680290 As 30 Estações de Trem Mais Bonitas do Mundo


#21 Estação da Luz, São Paulo, Brasil

Estacao Trem Luz SP As 30 Estações de Trem Mais Bonitas do Mundo

#22 Estação Ferroviária de Kuala Lumpur, Malásia

Kuala Lumpur Railway Station e1336046207699 As 30 Estações de Trem Mais Bonitas do Mundo

#23 Gare de Strasbourg, Estrasburgo, França

Gare de Strasbourg e1336046342169 As 30 Estações de Trem Mais Bonitas do Mundo

#24 Estação Central de Lviv, Ucrânia

Lviv Station e1336046555585 As 30 Estações de Trem Mais Bonitas do Mundo

#25 Estação Keleti, Budapeste, Hungria


Keleti Budapest e1336046903770 As 30 Estações de Trem Mais Bonitas do Mundo

#26 Estação Central de Groningen, Holanda

Central Station Groningen e1336047007979 As 30 Estações de Trem Mais Bonitas do Mundo

#27 Estação de Calatrava, Liège, Bélgica

Liege Belgium e1336047182268 As 30 Estações de Trem Mais Bonitas do Mundo

#28 Gare de Limoges-Bénédictins, Limoges, França

Estacao Trem Limoges As 30 Estações de Trem Mais Bonitas do Mundo.


#29 Estação de Hua Hin, Tailândia


Hua Hin Railway Station e1336047521617 As 30 Estações de Trem Mais Bonitas do Mundo

#30 Southern Cross Station, Melbourne, Austrália

Southern Cross Station Melbourne e1336049188463 As 30 Estações de Trem Mais Bonitas do Mundo
In site do Hostelsbookers

E a Gare do Oriente, Lisboa , Portugal


quarta-feira, 29 de abril de 2015

Estou só

ERRÂNCIA
Só porque
erro
encontro
o que não se
procura

só porque
erro
invento
o labirinto


a busca
a coisa
a causa
da procura

só porque
erro
acerto: me
construo.


margem de
erro: margem
de liberdade
FONTELA, OridesPoesia reunida. São Paulo: Cosac Naify: Rio de Janeiro: 7 Letras, 2006, p.202
Bosques de mi Mente, em "Estoy solo, respondió el eco"

terça-feira, 28 de abril de 2015

Morrer é não estar em ti


Morrer é não estar em ti,
e mais do que não te ver,
é não ser visto por ti,

no deserto do não ser.
Eugénio Lisboa

A voz de Amélia Muge deu som ao belíssimo poema de Eugénio Lisboa para tecer  uma magnífica canção: Transparência.
...Sem rótulos de estilo ou género, a música de Amélia Muge é um mundo extenso em compulsiva vibração, um mundo de canções, completas, cheias de uma musicalidade que não se deixa agrilhoar ao fado, à música tradicional, ao jazz, a nada...



Morrer é só não ser visto,
é sair de ao pé de ti,
apagar-me em tudo isto,
deixar de ver o que vi.

Morrer é não estar em ti,
e mais do que não te ver,
é não ser visto por ti,
no deserto do não ser.

Morrer é como apagar-se
a chama que houve em nós,
é uma espécie de ficar-se
vazio da própria voz.

Vive o amor da atenção
que se tem por quem se ama.
Mas a morte atiça em vão
o fio que não dá chama.

Morrer é só não ser visto,
é passar a pertencer
a um livro de registo
que guarda o nosso não-ser.
Eugénio Lisboa 
Poema  cantado por Amélia Muge no álbum  “Não sou daqui" acompanhada por José Peixoto (guitarra acústica), Yuri Daniel (contrabaixo e baixo eléctrico), Catarina Anacleto (violoncelo), Filipe Raposo (piano e acordeão), José Manuel David (sopros) e Carlos Mil-Homens (cajón).
A música é  de Amélia Muge, o  arranjo de António José Martins, a  produção de Amélia Muge/António José Martins

Odeio a página mal escrita

A minha pátria é a língua portuguesa
Por Fernando Pessoa

"Não chóro por nada que a vida traga ou leve. Há porém paginas de prosa que me teem feito chorar. Lembro-me, como do que estou vendo, da noute em que, ainda creança, li pela primeira vez numa selecta, o passo celebre de Vieira sobre o Rei Salomão, "Fabricou Salomão um palacio..." E fui lendo, até ao fim, tremulo, confuso; depois rompi em lagrimas felizes, como nenhuma felicidade real me fará chorar, como nenhuma tristeza da vida me fará imitar. Aquelle movimento hieratico da nossa clara lingua majestosa, aquelle exprimir das idéas nas palavras inevitaveis, correr de agua porque ha declive, aquelle assombro vocalico em que os sons são cores ideaes — tudo isso me toldou de instincto como uma grande emoção politica. E, disse, chorei; hoje, relembrando, ainda chóro. Não é — não — a saudade da infancia, de que não tenho saudades: é a saudade da emoção d´aquelle momento, a magua de não poder já ler pela primeira vez aquella grande certeza symphonica.
Não tenho sentimento nenhum politico ou social. Tenho, porém, num sentido, um alto sentimento patriotico. Minha patria é a lingua portuguesa. Nada me pesaria que invadissem ou tomassem Portugal, desde que não me incommodassem pessoalmente, Mas odeio, com odio verdadeiro, com o unico odio que sinto, não quem escreve mal portuguez, não quem não sabe syntaxe, não quem escreve em orthographia simplificada, mas a pagina mal escripta, como pessoa própria, a syntaxe errada, como gente em que se bata, a orthographia sem ípsilon, como escarro directo que me enoja independentemente de quem o cuspisse.
Sim, porque a orthographia também é gente. A palavra é completa vista e ouvida. E a gala da transliteração greco-romana veste-m´a do seu vero manto régio, pelo qual é senhora e rainha."
Texto reproduzido com a ortografia da época de Fernando Pessoa. Foi publicado originariamente em "Descobrimento", revista de Cultura n.º 3, 1931, pp. 409-410, transcrito do "Livro do Desassossego", por Bernardo Soares (heterónimo de Fernando Pessoa,1888-1935), numa recolha de Maria Aliete Galhoz e Teresa Sobral Cunha; ed. de Jacinto do Prado Coelho, Lisboa, Ática, 1982 vol. I, p. 16-17. 

segunda-feira, 27 de abril de 2015

O ano de 1968 por Manoel de Andrade

Manoel de Andrade, poeta brasileiro,  foi uma das vítimas da Ditadura no Brasil. Exilado , percorreu cerca de dezassete países da América Latina, apregoando os seus ideais libertários e recitando os seus poemas. Desse tempo, saiu um registo de um longo rememorar que nos transporta à época onde a utopia iluminava os trilhos da esperança num novo Mundo. « NOS RASTROS DA UTOPIA, uma memória crítica da AMÉRICA LATINA, nos anos 70»
Em jeito de homenagem, transcrevemos algumas das páginas destas magníficas Memórias que retratam momentos de contestação e repúdio pela   falta  de  Liberdade  que causou  tanto  sofrimento  e   perseguição  àqueles  que    lutaram por um mundo melhor e justo. Manoel  de Andrade leva-nos até ao memorável    ano de 1968. 
  Um imenso agradecimento  com todo o nosso apreço ao escritor  de Curitiba.
Edson Luís Lima Souto foi assassinado por um soldado da PM,
com um tiro no peito, em 28 de Março de 1968
(Acervo da Biblioteca Nacional)
4 - O ano de 1968.        

      "Quando cheguei a Curitiba, no último dia de março, o meio estudantil estava fervendo com a revolta pela morte do estudante Edson Luiz de Lima Souto, ferido mortalmente com um tiro no coração, pela polícia do Rio de Janeiro, no restaurante universitário Calabouço. Contudo, esse não seria um fato isolado na agenda do movimento estudantil no histórico calendário daquele ano. Na verdade o ano de 1968, no Brasil e no Mundo, deixou um registro indelével em todos aqueles que aninhavam na alma o sonho de um mundo melhor. No plano internacional, o ano começara com a auspiciosa notícia, em 05 de janeiro, de amplas reformas e a volta da liberdade de expressão na Tchecoslováquia. Procurando distanciar-se do stalinismo e do autoritarismo de Moscou, o político Alexander Dubcek, acenava para seu povo com o tão sonhado socialismo humanitário. Era a chamada Primavera de Praga, cujas flores se abriram deslumbrantes para o país e para o mundo, mas seus frutos não chegariam a amadurecer. Por outro lado, ainda em janeiro uma importante notícia corre o planeta: as tropas americanas começam a ser batidas no Vietnam pela ofensiva vietcongue, chamando a atenção internacional e do próprio povo norte americano que começa a reagir contra a crescente participação militar dos EUA na guerra.
Enquanto isso, também em janeiro, no que tange ao Brasil, é gratificante relembrar que o PC do B -- antecipando-se a uma dezena de siglas revolucionárias que ao longo do ano iriam recrutar quadros para combater a Ditadura  --  já localizava seus primeiros militantes nas margens do Rio Araguaia, com o objetivo de politizar os trabalhadores da região para uma guerra revolucionária contra o Regime Militar.
      Na agenda de 1968, contudo, um fato lamentável marcou a história do Ocidente: o assassinato, em abril, de Martin Luther King Jr, marcava a interrupção do seu imenso sonho. O sonho de que brancos e negros se sentassem um dia na mesma mesa da fraternidade e que a sua pátria oprimida pela segregação se transformasse num oásis de  liberdade e de justiça. E quando agosto chegou, novamente a amargura invadiu nosso território de sonhos. Apesar do apoio do presidente Tito da Iugoslávia e Ceaucescu, da Romênia, sete mil e quinhentos tanques e duzentos mil soldados do Pacto de Varsóvia fazem murchar as flores da Primavera de Praga e suas sementes somente germinariam vinte anos depois -- quando o estrondo da queda do Muro de Berlin em 09 de novembro de 1989 ecoou uma semana depois sobre o massacrado sentimento nacional do povo tcheco -- florescendo novamente num pacífico levante popular, conhecido como Revolução de Veludo, que traria novamente Dubcek ao poder, agora já sem os sonhos de um mundo socialista, mas de um mundo que ressurgia identificado com os princípios do liberalismo, consolidando  a ganância do capitalismo através da marcha inexorável para a  globalização.À margem desses grandes registros o ano de 1968 tem outra agenda, onde a contra-cultura corre paralela com os seus paradigmas equivocados e os fatos políticos noticiam, em junho, o assassinato do senador Robert Kennedy e a eleição de De Gaulle. Em 27 de setembro, António de Oliveira Salazar, no poder há quatro décadas, é afastado do  Governo por motivos de doença, mas a Ditadura continuou a oprimir Portugal até Abril de 1974. Nos Estados Unidos da América, Richard Nixon é eleito Presidente, em 5 de  novembro.
      No Brasil, o ano de 1968 não terminaria, como bem sentenciou  Zuenir Ventura. ao titular seu livro. O mês de dezembro começa com o teatro Opinião destruído, no Rio de Janeiro, pelo CCC (Comando de Caça aos Comunistas) e no dia 12 a negação da Câmara dos Deputados para processar o deputado Marcio Moreira Alves, abre a maior crise política da República depois da Era Vargas. As Forças Armadas e a Polícia Federal entram em prontidão e, no dia seguinte, é decretado o AI-5 com o fechamento do Congresso, a súbita paralisação da vida nacional e todas as trágicas consequências que sangrariam o país por vinte e um anos.

5. Um coração de estudante num peito perfurado.

      O personagem mais importante de 1968 foi o movimento estudantil. Duramente reprimido desde o golpe militar e tendo a própria sede da UNE (União Nacional dos Estudantes) saqueada e incendiada pelo CCC em 1º de abril de 1964  --  o próprio dia do golpe --, o movimento estudantil reconquista gradativamente o seu espaço político. A partir de 1966, desafiando proibições e ameaças, passa a realizar clandestinamente seus congressos e, durante todo o ano de 1968, integrando-se a uma onda mundial de protestos, vai tomando corpo no cenário nacional e, agigantando-se como um fenômeno social, passa a ocupar, no Brasil, o principal papel no palco das grandes manifestações populares contra a ditadura militar.
      Em 1968 o Brasil tinha 278 mil estudantes universitários e uma juventude com uma depurada visão crítica dos problemas do seu tempo. Destacando-se nas melhores cenas desse palco surgem inumeráveis lideranças estudantis comandando nacionalmente um imenso corpo estudantil plenamente sintonizado com uma cultura engajada onde se destacavam o teatro de resistência e uma qualificada música popular de protesto. Surgem inteligências muito jovens empunhando as mais diversas bandeiras entre as quais sobressaem os estudantes Vladimir Palmeira e Luís Travassos, ambos com 23 anos e uma rica geração musical por onde ecoa, nos grandes festivais, as canções engajadas de Geraldo Vandré e as composições premiadas de Chico Buarque, então com 24 anos. É a época do combativo Grupo Opinião dirigido por Augusto Boal,  teatralizando a resistência política através da arte. É o ano em que se opta pela luta armada e neste contexto alistam-se as lideranças estudantis mais politizadas.  Os filmes brasileiros são reconhecidos internacionalmente através do cinema crítico de Glauber Rocha, na época com 29 anos. A teoria política, a crítica literária e a poesia engajada têm suas próprias trincheiras de luta e, entre estas, destaca-se, pela sua soberania intelectual, a Revista Civilização Brasileira, porta-voz da esquerda brasileira e internacional. De alguma maneira, pela grande integração cultural, direta ou indiretamente, todos esses afluentes da arte e da cultura deságuam, em 1968, no caudaloso rio do movimento estudantil e tudo isso mostra uma admirável paisagem de cultura política assimilada por uma juventude que seria, no fim daquele ano, brutalmente amordaçada pela ditadura e cujo luminoso fenômeno ideológico não se repetiria mais na história do país.
      A ocupação da Sorbonne, em maio, pelos estudantes franceses e os choques de rua que abalaram Paris, acenderia o rastilho da revolta estudantil em todo o mundo, cujos reflexos no Brasil levariam aos confrontos violentos da Sexta-feira sangrenta e a Passeata dos Cem Mil em junho no Rio de Janeiro. Foi nesse amplo contexto de acontecimentos nacionais e mundiais que o movimento estudantil, assumindo a vanguarda militar das mudanças, desfraldou a bandeira da luta armada no Brasil. Rememorando detalhadamente os fatos que determinaram essa opção é indispensável buscar as suas próprias causas ao longo de 1968.

      No dia 28 março daquele ano, no Rio de Janeiro, um protesto estudantil contra as péssimas condições de higiene do Restaurante Calabouço ocasionou a sua invasão pela Polícia Militar onde uma incontida violência ao som de metralhadoras culminou com a morte do estudante Edson Luis de Lima Souto. A dimensão do massacre, onde caíram mortos outras vítimas, provocou uma forte reação social na cidade e, politicamente, uma reviravolta no governo da Guanabara ante as manifestações de repúdio parlamentar em nível estadual e federal. A imprensa nacional noticiou o fato com destaque e o jornal carioca “Correio da Manhã”, corajoso paladino das denúncias contra a Ditadura Militar, no dia seguinte, relata assim o trágico episódio:

      (...) “Apesar da legitimidade do protesto estudantil, a Polícia Militar decidiu intervir. E o fez à bala. Há um estudante (18 anos) morto, um outro (20 anos) em estado gravíssimo. Um porteiro do INPS, que passava perto do Calabouço, também tombou morto. Um cidadão que, na Rua General Justo, assistia, da janela de seus escritório, ao selvagem atentado, recebeu um tiro na boca. Este o saldo da noite de ontem. Não agiu a Polícia Militar como força pública. Agiu como bando de assassinos. Diante dessa evidência cessa toda discussão sobre se os estudantes tinham ou não razão - e tinham. E cessam os debates porque fomos colocados ante uma cena de selvageria que só pela sua própria brutalidade se explica.
Atirando contra jovens desarmados, atirando a esmo, ensandecida pelo desejo de oferecer à cidade apenas mais um festival de sangue e morte, a Polícia Militar conseguiu coroar, com esse assassinato coletivo, a sua ação, inspirada na violência e só na violência. Barbárie e covardia foram a tônica bestial de sua ação, ontem. O ato de depredação do restaurante pelos policiais, após a fuzilaria e a chacina, é o atestado que a Polícia Militar passou a si própria, de que sua intervenção não obedeceu a outro propósito senão o de implantar o terror na Guanabara. Diante de tudo isto, depois de tudo isto, é possível ainda discutir alguma coisa? Não, e não.”(...).[1]  

      A morte, aos 18 anos, do estudante paraense Edson Luiz, com um tiro de pistola no coração, abre a primeira porta de uma crise institucional sem precedente na história republicada, depois do Estado Novo. O ato foi o estopim de uma imediata tomada de consciência estudantil e um fato cujo potencial de revolta deflagrou não só a luta aberta contra a política educacional do governo, mas o início mesmo da sua mobilização nacional contra o regime militar, determinando outros estratégicos desdobramentos nos anos escancarados da Ditadura, quando o desterro da democracia e a opção pela luta armada deixaram a história da pátria manchada pelo sangue de tantos estudantes e inundada por tantos rios de lágrimas. Nesse sentido é relevante dizer que naquele mesmo 28 de março a camisa ensanguentada de Edson Luiz era agitada aos quatro ventos como uma simbólica bandeira de luta.  O clima de luto, no dia seguinte, não refletia somente um sentimento de pesar, mas uma surda proposta de reação política apenas protelada pelas circunstâncias.  No Rio, as aulas foram oficialmente suspensas e os diretórios entraram em assembléia, os teatros da Guanabara fecharam suas portas por três dias, caíram cabeças no governo do Estado, o tenente assassino foi preso e o grande jurista Sobral Pinto foi constituído pelos estudantes no processo de punição aos culpados. No Congresso Nacional, vários oradores se revezaram condenando “o vandalismo e a covardia da Polícia” e o então deputado Mario Covas responsabilizou o Governador Negrão de Lima pelos acontecimentos. Envolto com as bandeiras, nacional e do Pará, o velório do jovem estudante na Assembléia Legislativa foi marcado pela presença de uma imensa movimentação popular e pelos inflamados discursos de várias lideranças estudantis e políticas contra o arbítrio e a violência policial.
      No dia 4 de abril, o desfecho da missa de sétimo dia a realizar-se na Igreja da Candelária, era aguardado com ansiedade e pressentimento por toda a classe estudantil do país. A cerimônia que começou calma terminou sob uma insuportável tensão emocional com o ronco dos aviões cruzando o local e os ruídos dos cascos da cavalaria cercando a saída da igreja. As 600 pessoas viram barrada a saída ante a ordem militar:
      --Desembainhar...
      E depois a ordem reiterada:
      --Aqui ninguém passa.  Recuem, recuem.
      O bispo auxiliar da cidade e mais quinze padres desafiando a ameaça de massacre, abrem os braços e, de mãos dadas, formam um corredor de saída.
      --Isso não é uma manifestação. Deixem estas pessoas voltar pra suas casas, diz o bispo.
      Há um impasse no ar. Uma expectativa de pânico e finalmente a contra-ordem:
      --Dispersar, dispersar.

      “Os sacerdotes, como que assistidos por uma força invisível, coordenaram a saída disciplinada e silenciosa pela calçada. Postados num cruzamento da Avenida Rio Branco, todos paramentados, ali permaneceram até que passassem,  sãos e salvos, todos os “sobreviventes” do ato religioso. Por certo, em suas orações, daquela esquina pra frente entregavam a sorte daqueles rapazes e moças, nas próprias mãos de Deus, sem imaginar que mais adiante muitos deles seriam brutalmente espancados e presos” [2]
       O fermento da revolta pela morte de Edson Luiz e a ameaça de violência com que a Polícia Militar encarou aqueles que lhe foram prestar, espiritualmente, a última homenagem, determinaram uma forte reação por parte de muitas categorias profissionais da população carioca, moralmente humilhadas ante a eminência de um massacre por parte dos soldados. Em junho daquele ano, no rastro mundial da emblemática revolta estudantil de maio, nas ruas de Paris, os estudantes cariocas, cada vez mais encurralados pela repressão e a perseguição política, transformaram o centro do Rio de Janeiro numa praça de guerra. Com início no dia 19, os protestos contra a ditadura chegaram ao auge no dia 21 de junho de 1968, data que ficou conhecida como a  Sexta-feira sangrenta. Ao final de três dias, aquela “sexta-feira” amanheceu com as ruas tomadas pelas barricadas. No começo da tarde os atos foram precipitando os fatos e delineando uma luta campal de horas ininterruptas, iniciada quando a cavalaria e os batalhões de choque entraram na Avenida Rio Branco investindo contra as barricadas dos manifestantes. Numa segunda linha de ataque, policiais e agentes do DOPS apareceram abrindo fogo contra grupos de resistência e atirando em direção às janelas dos edifícios ocasionando o pânico e correria pelas transversais da Avenida.

“As barricadas de Paris talvez não tenham causado tantos feridos quanto a “sexta-feira sangrenta” do Rio, para citar apenas um dia de uma semana que ainda teve uma quinta e uma quarta quase tão violentas. (...)  Durante quase dez horas, o povo lutou contra a polícia nas ruas, com paus e pedras, e do alto dos edifícios, jogando garrafas, cinzeiros, cadeiras, vasos de flores e até uma máquina de escrever”.[3]"
Manoel de Andrade, in « NOS RASTROS DA UTOPIA, uma memória crítica da AMÉRICA LATINA, nos anos 70», Escrituras Editora, S. Paulo, Brasil, Março de 2014



[1]    . Correio da Manhã. Rio de Janeiro: 29.03.1968.
[2]    ANDRADE, Manoel de. A sexta-feira sangrenta.
      http://palavrastodaspalavras.wordpress.com/2008/04/29/1968-a-sexta-feira-sangrenta-por-manoel-de-andrade/  Acesso em: 12 jul. 2010
[3]    VENTURA, Zuenir. 1968: O ano que não terminou. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988,p.134.

domingo, 26 de abril de 2015

Ao Domingo Há Música

 
O mágico é o verdadeiro. E tudo o mais se encantou no claro vento. E o vento caiu no verde, brotou, brotou, virou tempo. 
                       Carlos Nejar, in  " O livro do Peregrino", Ed. Pergaminho

A música não vem com o vento, mas pode  transportar a magia que brota o sonho dentro do Homem.
Para sonhar e recordar, retirou-se ao tempo alguns registos de um excelente espectáculo que fez uma diferente e magnífica revisão de  grandes sucessos .
No aplaudido concerto de Boston, em 2008, o virtuoso trompetista Chris Botti convidou vários cantores. Um deles foi John Mayer com a canção Glad To Be Unhappy



The Look of love de Burt Bacharach, na voz de Sy Smith e o trompete de Chris Botti.




O carismático Steven Tyler em Smile  e ainda o talento de Chris Botti no trompete.

sábado, 25 de abril de 2015

Cantar o 25 de Abril

Quadro de Júlio Pomar alusivo  ao 25 de Abril
Celebrar o 25 de Abril recordando-o através de 100 fotografias legendadas pelas vozes  de Paulo de Carvalho , Zeca Afonso  e outros, nas melodias mais  emblemáticas da Revolução dos Cravos  de 1974. 

E a talentosa Sara Tavares  numa original interpretação  de  " Grândola Vila Morena".

Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti, ó cidade

Dentro de ti, ó cidade
O povo é quem mais ordena
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena

Em cada esquina um amigo
Em cada rosto igualdade
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade

Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
Em cada rosto igualdade
O povo é quem mais ordena

À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade
Jurei ter por companheira
Grândola a tua vontade.

Grândola a tua vontade
Jurei ter por companheira
À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade

Zeca Afonso

Uma tese premonitória do 25 de Abril

José Medeiros Ferreira e a tese que previu o 25 de Abril 
Este texto resulta de uma conversa do jornalista, em meados de Janeiro de 2014, com Medeiros Ferrreira, que morreu em Março do mesmo ano. A sua intervenção no Congresso de Aveiro, em 1973, que gostava de recordar, definiu, pela primeira vez, aqueles que viriam a ser os objectivos com que o Movimento das Forças Armadas fez a revolução de 25 de Abril de 1974: Democratizar, descolonizar e desenvolver, os célebres "três D".  
Por Rui Soares  
"No 3.º Congresso da Oposição Democrática, em Aveiro de 1973, uma tese subscrita por um exilado na Suíça previa a queda do regime às mãos dos militares. No entanto, este estudo de José Medeiros Ferreira foi mal recebido e não foi considerado nas conclusões do conclave. “As Forças Armadas já deram ao Governo um período excepcional para a resolução política do problema colonial. E diga-se em abono da verdade que oferecer dez anos para resolver politicamente uma guerra é raríssimo nos tempos que correm”, escreveu Medeiros Ferreira no seu contributo intitulado Da necessidade de um plano para a Nação. Para chegar a esta conclusão, o historiador partia de uma reflexão: “O Exército é a instituição que mais se confunde com a Nação. E, embora o Exército seja objectivamente um instrumento da política das classes dirigentes, a instituição, enquanto tal, é interclassista e nacional. Semelhante natureza decorre da existência de um serviço militar obrigatório que torna presentes todas as classes sociais no seio da instituição.” A tese, lida em Aveiro pela mulher de José Medeiros Ferreira, que se encontrava exilado desde o Verão de 1968 e recebera no Outono daquele ano o estatuto de refugiado político das autoridades helvéticas, não esquecia as consequências da guerra colonial na relação das Forças Armadas com a sociedade. A especialização ditada pelas três frentes de guerra – Guiné, Angola e Moçambique – e a criação de corpos especializados de elite (comandos, pára-quedistas e fuzileiros) favoreceu o enquadramento dos militares pelo regime. 
Contudo, teve um efeito perverso e contraditório com os objectivos da ditadura. “A própria guerra, porém, se bem que obrigando as Forças Armadas a tarefas medíocres e incompatíveis com a sua função nacional, deu-lhe dimensões sem precedentes na história pátria”, escreveu Medeiros Ferreira. Já então estudioso do futuro das relações externas de Portugal no âmbito da Europa, o autor antevia problemas: “As Forças Armadas isolam-se assim do todo nacional e são impedidas por tais funções de se orientarem para o aperfeiçoamento do sistema defensivo, tendo em vista ataques ou meras pressões do exterior.” Foi a partir da leitura do livro de António de Spínola Por uma Guiné melhor, editado em 1970 pela Agência Nacional do Ultramar, que José Medeiros Ferreira trabalhou. “Era de 80% a percentagem dedutiva-intelectual, a que juntava a experiência empírica da minha passagem pela tropa em 1967/68”, reconheceu ao PÚBLICO em Janeiro de 2014.

No entanto, o livro de Spínola teve consequências. Costa Gomes, enquanto comandante da região militar de Angola, disse que a tropa estava naquele território para fazer respeitar as suas fronteiras. “Ele não disse que a presença militar era para defender a integridade dos territórios ultramarinos, não repetiu o slogan do regime, mas defendeu a missão política possível”, comentou. “O pensamento estratégico da instituição militar estava a mudar no sentido de obrigar o Governo de Marcello Caetano a defender objectivos ao alcance dos meios militares portugueses”, referiu Medeiros Ferreira: “As Forças Armadas não se iam oferecer muito mais tempo ao regime.” Esta tese percursora, redigida no Natal de 1972, não foi acolhida pela oposição ao regime. “Quando regressou a Genebra a minha mulher contou-me que a tese não tinha sido bem recebida. Aliás, não faz parte das conclusões que, entre outros, foram feitas por Gomes Canotilho”, recordou José Medeiros Ferreira: “A minha tese afrontava as teses do PCP.” O historiador José Pacheco Pereira estava presente em Aveiro aquando da apresentação da tese. “A maioria das pessoas não prestou atenção. Mas houve protestos, recordo uma mulher jovem que afirmava ser da Amadora dizer conhecer . os militares e que a tese era mentira”, lembra. “A maioria das pessoas ali presente tinha relações com o PCP e viam na tese de Medeiros Ferreira a reminiscência do putschismo do republicanismo histórico”, conta Pacheco Pereira. Em clara contradição, “com a tese do levantamento nacional armado de Álvaro Cunhal descrita no Rumo à Vitória”. Pacheco Pereira contextualiza, por fim, o Congresso de Aveiro: “O ambiente era de um comício contra o regime, era tudo a preto e branco, contra o regime e os esquerdistas contra o PCP”. Assim, a tese de um outsider exilado, como era José Medeiros Ferreira, careceu de apoio e atenção. Por isso, sob a férula do PCP, os sectores mais tradicionais da oposição, os socialistas e os comunistas, estavam unidos, isolando a direita socialista e social-democrática e parte dos velhos republicanos que eram anticomunistas e defensores das colónias portuguesas. Esta “unidade”, que correspondia às posições teóricas do PCP sobre a estratégia da oposição, facilitou uma enorme hegemonia dos comunistas sobre todo o congresso, das teses, muitas vezes com origem nos núcleos regionais e profissionais onde tinham mais influência, à própria condução dos trabalhos, constituição das mesas e controlo sobre a ortodoxia das conclusões. No entanto, o sector que realmente ficava de fora eram os esquerdistas, que, desde os chamados “sectores não reformistas da CDE”, católicos radicalizados, o proto-MES de Jorge Sampaio, Wengorovius, e outros, e os grupos ligados às comissões de base socialistas e às brigadas revolucionárias, aos diferentes grupos maoístas, não só estavam fora do congresso, como o atacavam com veemência. Ora, bastava esta marginalização do esquerdismo para em 1973 isso significar que o congresso estava longe de representar toda a oposição e mesmo os sectores mais dinâmicos dessa oposição, em particular no movimento estudantil e, em embrião, no movimento sindical renovado que iria dar origem à Intersindical, onde os comunistas partilhavam o poder com sectores operários e dos serviços, que mais tarde vão aparecer ligados ao MES.

Na época, estas diferenças de opinião não eram meigas, nem amigáveis, mas bastante duras. Os “sectores não reformistas da CDE” escreviam o nome do congresso com “democrático” entre aspas e os maoístas contestavam o congresso às claras e organizaram-se durante o seu decurso para, em certas secções, fazer aprovar moções que os comunistas recusavam. Havia projectos de teses que tinham ficado pelo caminho, como uma oriunda do PCP (ML) assinada pelos nomes fictícios de “M. Ribeiro” e “J. Gregório”, na verdade Militão Ribeiro e José Gregório, nomes de dois dirigentes comunistas já falecidos, considerados militantes destacados de um PCP que não era “revisionista”. Era uma clara provocação e foi censurada num processo de selecção que ninguém controlava. Este conflito centrou-se durante o congresso na secção que incluía a “educação”, onde seria suposto discutir-se o movimento estudantil e que acabou à pancada. Compreende-se porquê: a maioria da sala era de estudantes esquerdistas, que se tinham reunido numa dupla clandestinidade em acampamentos e nos pinhais à volta de Aveiro, para levar o congresso a tomar posições anticoloniais, sobre a queda do regime e sobre a participação nas eleições, claramente contra a orientação do PCP. Esses estudantes chegaram a uma sala no andar superior do cinema onde este decorria e encontraram uma mesa constituída por militantes do PCP e da UEC que ninguém tinha escolhido e que fez tudo para evitar votar um documento hostil, acabando a reunião manu militari. Já contei esse incidente, que me opôs a Lino de Carvalho, e Rui Bebiano, actual director do Centro de Documentação do

25 de Abril, contou que nesse dia “fugira” duas vezes, uma do “serviço de ordem do congresso”, outra dos polícias de choque. O outro pólo de conflito no congresso traduziu a mesma vontade de controlo político do PCP e ocorreu com a tese de Medeiros Ferreira sobre o papel das forças armadas, apontando quer os riscos de um golpe de direita, quer as possibilidades de um derrube do regime pelos militares, assente na trilogia do “descolonizar, democratizar e desenvolver”. Num certo sentido, essa foi a tese mais premonitória do congresso, violentamente atacada pelos sectores do PCP. Assisti a essa sessão e recordo-me de ver uma jovem mulher, claramente comunista, a vociferar contra os militares que ela, que vivia na Amadora, dizia conhecer muito bem na sua violência pró-regime. À data em que enviou a tese para o congresso, Medeiros Ferreira vivia exilado na Suíça e tinha integrado o Grupo Revolução Socialista e a revista Polémica, em que ele era o único que não era excomunista, como António Barreto ou Eurico Figueiredo. A sua reflexão, como a de Manuel Lucena, também colaborador da Polémica, estava mais próxima de um socialismo radical do que do esquerdismo predominantemente maoísta, e acompanhava uma mudança de temas e análises que veio a permitir uma renovação do pensamento da oposição. O PCP contrariava como podia estas “inovações” esquerdistas, usando alguns dos seus intelectuais nesse combate, como Vital Moreira escrevendo sobre Marcuse, ou Sottomayor Cardia discutindo o “pensamento de Ulianov”, ou seja, Lenine para efeitos de censura.  Foi neste contexto que se realizou o Congresso da Oposição Democrática e, se abstrairmos destas mitologias heróicas, podemos dar-lhe a sua verdadeira dimensão como acto de resistência e coragem, face a um regime que ninguém pensava que iria acabar um ano depois. " (Nuno Ribeiro) Centro de Documentação do 25 de Abril,da UC

Diário de Lisboa, pág. 1, 8 de Abril de 1973

sexta-feira, 24 de abril de 2015

Actividades para o 25 de Abril

Lisboa celebra 25 de Abril com diversas atividades
"Lisboa assinala o 41.º aniversário do 25 de Abril com diversas actividades culturais, desportivas e lúdicas. A inauguração do Museu do Aljube, a Corrida da Liberdade ou a Festa no Parque são alguns dos eventos em destaque.
Já no dia 23 é apresentado no Arquivo Municipal, às 18h30, o catálogo “O Arquivo Saiu à Rua”, no seguimento da exposição realizada nos 40 anos do 25 de Abril. 
Também nesse dia e no Arquivo Municipal é inaugurada, às 18h00, a exposição “A Revolução Está na Rua”, uma reportagem fotográfica feita por alunos do Ar.Co – Centro de Arte e Comunicação Social, a convite da Câmara de Lisboa, que integrou as comemorações do 40.º aniversário do 25 de Abril. A mostra ficará patente até 30 de Maio. 
No dia 25, Há Festa no Parque promete um dia recheado de actividades com teatro, danças, yoga, zumba, marionetas, oficinas criativas, jogos tradicionais e pintura, entre outras. A partir das 10h30, no Parque Eduardo VII.
Ainda às 10h30 arranca de vários pontos da cidade a Corrida da Liberdade, um mar de gente a celebrar o desporto e a liberdade com meta nos Restauradores. 
A Quinta Pedagógica dos Olivais abre as suas portas com actividades para maiores de seis anos a partir das 11horas. E se de manhã o objectivo é conhecer a quinta e os seus animais, a partir das 15h o atelier “Da Tosquia à Lã” está disponível para crianças a partir dos três anos, que aí podem conhecer todas as fases por que passa a lã. As duas actividades são gratuitas mas carecem de inscrição prévia através do e-mail quinta.pedagogica@cm-lisboa.pt, ou do telefone 218 550 930.
A revolução de 1974 é também lembrada no grande ecrã e o Cinema Ideal oferece à população de Lisboa, no dia 25, ao meio-dia, uma sessão do filme “As Armas e o Povo”, com entrada gratuita.
O filme é um retrato dos dias vividos entre o 25 de Abril e o 1º de Maio de 1974, resultado do trabalho colectivo de um grupo de cineastas que então saíram à rua e filmaram tudo o que acontecida à sua volta (excerto do filme). Às 16h45 é projectado na mesma sala “Outro País” de Sérgio Tréfaut com um custo de cinco euros por bilhete e oferta do segundo.
Às 16h o teatro São Luíz apresenta o “Concerto Moderno”, uma orquestra de cordas formada por jovens instrumentistas da área de Lisboa que interpretam no dia 25 músicas de Lopes Graça e Eurico Carrapatoso. Com direcção de César Viana e a participação especial da solista Carla Caramujo.
Às 19 horas, um momento há muito esperado na cidade que viu Abril nascer: a inauguração do Museu do Aljube - Resistência e Liberdade, dedicado à memória do combate à ditadura e da resistência em prol da liberdade e da democracia.
No dia 26 a Avenida da Liberdade volta a encher-se de animação com Ansac Day Celebration, um evento promovido pela Embaixada da Austrália junto ao monumento aos mortos da Primeira Grande Guerra, que pretende assinalar o centésimo aniversário dos desembarques na península de Gallipoli. A cerimónia tem início às 11 horas e é precedida de uma iniciativa da Banda do Exército às 10h45."Boas Notícias

Bom dia , Tristeza

Vaga, no azul amplo solta

Vaga, no azul amplo solta,

Vai uma nuvem errando.
O meu passado não volta.
Não é o que estou chorando.

O que choro é diferente.
Entra mais na alma da alma.
Mas como, no céu sem gente,
A nuvem flutua calma.

E isto lembra uma tristeza
E a lembrança é que entristece,
Dou à saudade a riqueza
De emoção que a hora tece.

Mas, em verdade, o que chora
Na minha amarga ansiedade
Mais alto que a nuvem mora,
Está para além da saudade.

Não sei o que é nem consinto
À alma que o saiba bem.
Visto da dor com que minto
Dor que a minha alma tem.

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro", Ed. Assírio e Alvim

Bom dia, tristeza 

Bom dia, tristeza
Que tarde, tristeza
Você veio hoje me ver
Já estava ficando
Até meio triste
De estar tanto tempo
Longe de você


Se chegue, tristeza
Se sente comigo
Aqui, nesta mesa de bar
Beba do meu copo
Me dê o seu ombro
Que é para eu chorar
Chorar de tristeza
Tristeza de amar

Vinicius de Moraes