domingo, 30 de novembro de 2014

Ao Domingo Há Música

"As vozes chegavam até mim, numa mistura de sons e de harmonia desconhecida. Parei. A rua enchia-se  de magia. Havia qualquer coisa no ar que me impedia de respirar. Era algo que não queria perder, que me seduzia e me sufocava. Num momento, voava para paraísos novos e num outro, sentia-me no chão, embalada por mil e um tons de um cântico.  Era a felicidade que chegava. Discreta e pujante, num ritmo que se confundia em vários andamentos. Um cântico que se transformava em hino: ora suave, ora jubiloso. Estava ali. Bem perto. Naquelas vozes que me entonteciam e me faziam exultar. E a revelação fez-se. Era a música que se me descobria numa rua estreita e ignota. A música, a minha paixão, futura e inseparável companheira, que, tal como eu, já saía à rua." Maria José Vieira de Sousa, em " Memórias de um tempo feliz"

As vozes de Natalie Dessay, Felicity Lott, e Angelika Kirchschlager e a Orquestra da Royal Opera Covent Garden House, na   sessão de gravação de "Amor" de Richard Strauss, em "Marie Theres'!... Hab mir's gelobt"  , sob a direcção do Maestro Antonio Pappano  .

sábado, 29 de novembro de 2014

Cabo Verde debaixo do Vulcão

Vulcão do Fogo ,em Cabo Verde, aumenta intensidade e aproxima-se da localidade de Portela
O Vulcão do Fogo voltou a ganhar força na noite de terça-feira. A lava aumentou novamente a velocidade e atingiu a localidade de Portela, a maior povoação de Chã das Caldeiras. São neste momento sete as bocas de erupção. A lava avançou a uma média de três metros por hora, encontrando-se agora a cerca de 30 metros da primeira casa da povoação. À entrada de Chã das Caldeiras estão máquinas que tentam abrir uma estrada alternativa à Portela.
Erupção em Cabo Verde já dura há três dias
O vulcão da ilha do Fogo, em Cabo Verde está a provocar muitos estragos nas áreas circundantes. Nas últimas horas, a erupção vulcânica voltou a ganhar força, com a lava a aumentar gradualmente de velocidade.
Vulcão da Ilha do Fogo obrigou a retirada de mais de cem mil pessoas das suas casas
Vulcão da Ilha do Fogo obrigou a retirada de mais de cem mil pessoas das suas casas Com a erupção vulcânica na Ilha do Fogo, perto de mil pessoas de Chã das Caldeiras foram retiradas das casas. Neste momento, os que não foram para casa de familiares estão distribuídos por três centros de acolhimento. São pessoas que vivem o drama de perder quase tudo.
Para muitos, é já segunda vez que têm de abandonar as suas casas. Na memória continua a erupção de há 20 anos que destruiu a aldeia de Chã da Caldeira.

Eventos Culturais e Cinema


Concerto de Outono pela  Orquestra de Câmara Portuguesa 
Espirito Haydn - O mundo na Palma da Mão!
30 Nov 2014- 17:00 - Grande Auditório do Centro Cultural de Belém
A OCP apresenta o seu Espírito Haydn – o mundo na palma da mão!, desta vez incluindo uma obra a si dedicada por Alejandro Viñao, um dos mais notáveis compositores da actualidade. Esta obra, uma exploração dos maravilhosos engenho e ritmo labiríntico do compositor argentino, é composta por uma orquestração do quarto andamento de Book of Grooves, para duas marimbas. Resultado de uma encomenda de Carneiro e Kunihiko Komori em 2011, a peça está a tornar-se rapidamente num clássico para esta formação.Segue-se o exímio violoncelista Bruno Borralhinho, que vem construindo uma fantástica carreira na Alemanha, e que colabora com a OCP pela segunda vez, trazendo-nos o celebérrimo concerto n.º 1 de Haydn. A terminar, teremos a genial Pastoral, de Beethoven, apresentada com o fulgor, a paixão e a energia criativa próprios da OCP e de Pedro Carneiro.


Desh | Akram khan Company no Centro Cultural de Belém (CCB)
"O coreógrafo e performer Akram Khan, apelidado pela BBC News como «o rei da dança contemporânea, e que se jogasse futebol seria Wayne Rooney», tem no primeiro solo, Desh, a obra mais pessoal. Galardoada com o Olivier Award for Best New Dance Production (Reino Unido, 2012), Desh (“país natal” em bengali) delineia múltiplas histórias de terra, nação, resistência e convergência, no corpo e na voz de um homem que tenta encontrar o seu equilíbrio, a sua identidade, num mundo instável. Movendo-se entre a Inglaterra e o Bangladeche, Khan tece enredos de memória, de experiência e de mito, para chegar a um mundo surreal em harmonia surpreendente. Ao mesmo tempo íntimo e épico, Desh explora a fragilidade no confronto com as forças da natureza e celebra a capacidade de resistência do espírito humano nos ritmos do trabalho, em sonhos e em história, em transformação e em sobrevivência."
5 e 6 Dez 2014 - 21:00 Grande Auditório do CCB Duração 1h20 S/Intervalo M/6

Pedro Jóia: "Os discos de estúdio são uma mentira"
                            Fotografia © Leonardo Negrão- Global Imagens
"O guitarrista português apresenta-se hoje (sábado) em dose dupla no Teatro São Luiz, em Lisboa. Primeiro a solo, na sala principal, e depois com o seu trio no Jardim de Inverno, repetindo no domingo.
Tem sido a solo que Pedro Jóia tem traçado parte do seu percurso, mas amanhã à noite o guitarrista apresentará no Jardim de Inverno do Teatro São Luiz, em Lisboa, o seu novo trio, constituído ainda por Norton Daiello (baixo) e João Frade (acordeão), onde explora a música de tradição popular urbana com algum do folclore português. Mas antes actuará ainda a solo na sala principal do teatro.
"Toco um instrumento muito harmónico e por isso habituo-me a ser autosuficiente, a pensar a música fechada neste instrumento. Esse é o meu espaço natural. Quando se está habituado a tocar tanto sozinho como eu é preciso dar espaço aos outros, saber ouvir, esse é um desafio que estou agora a reaprender", explica o músico ao DN.
Prémio Luso-Espanhol de Arte Cultura tem como intenção distinguir a obra de um criador que incremente a comunicação e cooperação cultural entre os dois países. Lídia Jorge venceu este prémio.
Prémio Luso-Espanhol de Arte Cultura tem como intenção distinguir a obra de um criador que incremente a comunicação e cooperação cultural entre os dois países. Lídia Jorge venceu este prémio. Fotografia © Gonçalo Villaverde / Global Imagens
Lídia Jorge distinguida com o Prémio Luso-Espanhol de Arte Cultura 2014
Lídia Jorge ganha prémio por conseguir "criar uma relação e vínculo de união entre Portugal e Espanha".
"A escritora Lídia Jorge foi hoje distinguida, por unanimidade, com o Prémio Luso-Espanhol de Arte Cultura 2014, atribuído pelo Ministério da Cultura de Espanha e pela Secretaria de Estado da Cultura de Portugal, anunciou hoje a editora.
De acordo com o Grupo Leya, a que pertence a editora de Lídia Jorge, o júri justificou a escolha por a escritora conseguir "criar uma relação e vínculo de união entre Portugal e Espanha, através da sua contribuição para o conhecimento mútuo de ambos os países".
Assinalou ainda que a escolha se deve ao "valor da sua obra literária, que aborda algumas das questões fundamentais do nosso tempo".
Criado em 2006, com periodicidade bianual, o Prémio Luso-Espanhol de Arte Cultura tem como intenção distinguir a obra de um criador que incremente a comunicação e cooperação cultural entre os dois países.
O galardão já foi entregue, entre outros, ao tradutor Perfecto Quadrado, ao arquiteto Siza Vieira e ao realizador Carlos Saura."DN
"Pára-me de repente o pensamento" é a terceira longa metragem documental de Jorge Pelicano. Rodado no interior de um hospital psiquiátrico - o Centro Hospitalar Conde Ferreira, no Porto - o filme acompanha a pesquisa do actor Miguel Borges no mundo interior da esquizofrenia. Pára-me de repente o pensamento estreou no Doclisboa em Outubro, integrou a competição internacional no Dok Leipzig, um dos mais antigos e importantes festivais de documentários na Europa e o OFF Cinema, em Poznan, na Polónia.
Em Novembro, foi galardoado no Festival Caminhos do Cinema Português com o Grande Prémio do festival, Prémio do Público e Prémio para Melhor realizador.
O documentário prossegue a carreira de festivais.
Sinopse
Cafezinho, cigarrinho. Moedinha, outro cafezinho. Utentes vagueiam pelos corredores. Circulam sós. Esperam. Mais uma passa, um cigarro que morre em beata. Terapias que apelam aos sentidos. Rotinas que os puxam para a realidade. É a vida que se repete nos espaços de um hospital psiquiátrico. A lucidez e a loucura vivem juntas.Do mundo exterior chega um actor que procura o seu personagem para uma peça de teatro, submergindo no mundo interior dos esquizofrénicos. Os utentes são parte do processo de construção do personagem. No meio da névoa o actor depara-se com um poema de Ângelo de Lima, alienado de condição. O personagem de teatro nasce. O cinema documenta. "
Documentário, Full HD, 111 min

A longa-metragem de Edgar Pêra "Virados do avesso" está nas salas de cinema e marca a estreia do realizador na comédia, depois de mais de três dezenas de filmes, em cerca de 30 anos de carreira. "Virados do avesso" é uma comédia de situação, feita com um orçamento próximo dos 600 mil euros, rodada em Portugal, durante três semanas. Conta com as interpretações de Diogo Morgado e Jorge Corrula, secundados por Nicolau Breyner, Nuno Melo, Rui Unas, Diana Monteiro, Marina Albuquerque e Anselmo Ralph.

Opéra La Bohème PUCCINI
Eric Mahoudeau 
Dans un Paris à la fois légendaire et bien réel, au temps de la bohème, l’évidence et la splendeur de la mélodie de Puccini évoquent ce qui nous hante tous : l’amour qui flamboie et nous emporte au ciel, la jeunesse qui s’enfuit et le temps qui détruit tout.
Opéra Bastille
Du 30 nov. au 30 déc. En savoir +
Atelier Lyrique
| Création  Maudits les innocents

© Maquette de costumes de N. Prats 
En 1212, de très jeunes gens venus d’Allemagne et de France, partent spontanément sur les routes d’Europe pour rejoindre la Terre Sainte. Cette « Croisade des enfants » n’a pas été décidée par l’Eglise. Le Pape Innocent III décide de l’interdire. Les enfants poursuivront pourtant leur chemin, allant vers leur destin tragique, portés jusqu’au bout par cette force dont on ne saurait dire si elle est belle ou terrifiante.
Amphithéâtre Du 13 déc. au 19 déc.
Jean-François Leclercq / OnP 
Avec la Symphonie n°4, Beethoven semble affirmer qu’au-delà de l’audace de ses expérimentations, il possède encore parfaitement la maîtrise d’une écriture « classique ». Quant à la Cinquième, une des oeuvres musicales les plus célèbres au monde, elle marque un tournant décisif dans l'histoire de la forme symphonique, tant sa puissance d'expression saisit et enchaîne l'auditeur.
Opéra Bastille Le 14 déc.  En savoir +
MCAL COM RETROSPECTIVA DE EDUARDO COUTINHO
10 a 14 de Dezembro de 2014, Cinema São Jorge, Lisboa
30 de Janeiro a 1 de Fevereiro de 2015, Casa das Artes, Porto
A Casa da América Latina apresenta a 5ª edição da Mostra de Cinema da América Latina entre os dias 10 e 14 de Dezembro de 2014, no Cinema São Jorge em Lisboa, e pela primeira vez no Porto, na Casa das Artes, entre os dias 29 de Janeiro e 1 de Fevereiro de 2015.
A 5ª Mostra de Cinema da América Latina apresenta três eixos fundamentais: Horizontes, Novos Caminhos e Eduardo Coutinho: Uma retrospectiva. O realizador brasileiro, um dos mais importantes documentaristas do mundo, será homenageado no ano em que faleceu tragicamente.
Foram as histórias de vida que apaixonaram Eduardo Coutinho, histórias que procurava captar em entrevistas enganadoramente simples, onde o realizador mostrava as expressões, o rosto, a voz e as hesitações dos seus entrevistados. Audacioso, explorou a paisagem mais inquieta, ambígua, variada, expressiva, desconhecida e familiar do mundo: o rosto humano.
O eixo Horizontes desta Mostra de Cinema apresentará vários dos exemplos mais interessantes da produção cinematográfica contemporânea dos países latino-americanos. Aqui se incluem géneros e temáticas diversas, co-produções e primeiros trabalhos, sendo a diversidade o critério fundamental.
A secção Novos Caminhos dirige-se ao público mais jovem, em idade escolar, numa perspectiva de educação pela interculturalidade e de abertura de horizontes. Novos Caminhos são os daqueles que saíram dos seus países em busca de uma vida melhor. Neste sentido, a secção é marcada por histórias de migrações, fenómeno que continua a determinar a vida de tantos latino-americanos e que em Portugal pode ser sentido através do contacto com aqueles que escolheram o nosso país como destino.O programa da Mostra de Cinema da América Latina será divulgado no dia 25 de Novembro.


Cante Alentejano, Património Imaterial da Unesco

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Nem tudo se sabe

Sabia que na Bolívia…?
"Em tempos de crise, a reeleição à primeira volta de um chefe de Estado que já efectuou dois mandatos não acontece muitas vezes. A de Evo Morales, com 61% dos votos, deveria, em consequência, ter sido mais sublinhada. Até porque a sua façanha eleitoral acontece num país, a Bolívia, que viu sucederem-se cinco presidentes entre 2001 e 2005. E porque ela coroa uma redução de 25% da pobreza, um aumento de 87% do salário mínimo real, a diminuição da idade da reforma [1] e um crescimento superior a 5% ao ano, tudo isto desde 2006. Se, como nos dizem, importa reencantar a política, por que não fazer com que sejam conhecidas estas boas notícias? Será porque a sua explicação se prende com reformas progressistas e tem como actores regimes de esquerda?
Alguns grandes meios de comunicação social, discretos sobre o êxito dos governos latino-americanos de esquerda, são-no também sobre os fracassos dos poderes conservadores. Inclusive em matéria de segurança. Este ano, por exemplo, foram já assassinados no México cinco jornalistas, um dos quais no mês passado durante um programa, em directo, na rádio. Atilano Román Tirado exigia muitas vezes na antena que oitocentas famílias expropriadas por causa da construção de uma barragem fossem indemnizadas. A sua combatividade foi fatal num país em que os sequestros, torturas e assassinatos se tornaram moeda corrente, em particular para quem põe em causa uma ordem social corroída e mafiosa.
A 26 e 27 de Setembro, quarenta e três estudantes da cidade de Iguala, no estado de Guerrero, a cento e trinta quilómetros da Cidade do México, protestavam contra reformas educativas de inspiração neoliberal promovidas pelo presidente Enrique Peña Nieto. Quando se deslocavam de autocarro foram interceptados pela polícia municipal e levados para parte incerta. A seguir, é verosímil que tenham sido entregues a um cartel da droga, encarregado de os executar e de esconder os seus restos mortais em fossas clandestinas. Nestas últimas semanas não param de ser descobertos túmulos deste género, por vezes repletos de corpos desmembrados ou queimados. Procurados pela justiça, o presidente da autarquia, a sua mulher e o director da segurança pública de Iguala puseram-se em fuga.
Desde que abriu às multinacionais o sector da energia [2] que Peña Nieto é adulado pela imprensa económica [3]. A França atribuiu-lhe a grande cruz da Legião de Honra. Irão algum dia os seus admiradores interpelá-lo sobre a quase impunidade de que beneficiam no seu país as forças policiais e os corruptos representantes eleitos? Talvez os grandes jornais ocidentais, os intelectuais mediáticos, Washington, Madrid e Paris não saibam que questões colocar ao presidente mexicano. Imaginem então as perguntas que espontaneamente teriam surgido nos seus cérebros se o massacre dos estudantes tivesse acontecido no Equador, em Cuba ou na Venezuela. Ou nessa Bolívia sobre a qual se diz baixinho que acaba justamente de reeleger o presidente Morales."Serge Halimi, sexta-feira 7 de Novembro de 2014, Le Monde Diplomatique
Notas
[1] Passou de 60 para 58 anos, nos homens, e de 60 para 55 nas mulheres com três ou mais filhos.
[2] Ler John Mill Ackerman, «Le Mexique privatise son pétrole», Março de 2014, www.monde-diplomatique.fr.
[3] A 28 de Junho de 2013, um suplemento do Financial Times tinha o seguinte título: «O tigre asteca começa a afiar as garras». Aparentemente, a 16 de Dezembro do mesmo ano esta operação de afiação estava concluída, uma vez que nessa altura o The Wall Street Journal saudava já, num editorial, o «modelo mexicano».

O compositor e cantor cubano Pablo Milanés  escreveu a canção, " Yo pisaré las calles nuevamente", em homenagem   a Miguel Enríquez, dirigente du MIR Chileno, morto no combate contra a ditadura no Chile, em  5 de Outubro de 1974 . A luta pela Democracia foi longa , dura e ceifou barbaramente muitas vidas que por ela se bateram. Com esta canção,Pablo Milanés louva também  todos os  heróis vítimas de perseguição e opressão.
E para que a memória não se apague, aqui fica o registo.

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Saudade

Há um traço que une todos os Homens: fomos todos filhos. A diferença passa a existir quando uns ainda são os  filhos de pais presentes e os outros já experimentaram a dor da ausência. Uma ausência concreta de uma presença que passou a ser enunciada  no pretérito. Uma presença ausente. Mas também presença  que vive, que se deseja, que se persegue , mas que nunca se esvazia dentro de nós.
A filiação requer presença. Uma presença física, corpórea dos progenitores. Ver partir quem nos amou é sentir que morremos também. O amor não se mede, nem é condicional. O amor marca-nos profundamente. Há nele uma necessidade física que se transcende, mas que dói. É a saudade de nós . E nesse nós estamos todos: filhos e pais. 
O tempo fez-me  filha de pais ausentes. Deixaram-me  em momentos diferentes mas consecutivos. Lineares na dor e na ausência. O rasto dessa separação está visível e completo.
Há  quem afirme que " A mágoa é uma espécie de ferrugem da alma e cada nova ideia ao passar , ajuda a limpá-la."
É dia de aniversário da minha Mãe. Partiu há anos. Para mim há  um ror de tempo. Quase infindo no passar dos dias. Trago-a comigo. Eu própria estou quase a atingir a idade com que ela partiu. Cedo . Muito cedo. No entanto, teve sempre a idade da Mãe que me construiu. Que me ensinou e mostrou o  prodígio da descoberta da vida. Encantou-me sempre .Tudo nela era para celebrar. A mágoa não se instalava. Havia, por magia ou por amor,  uma nova ideia para a combater, para a afugentar . E a felicidade com ela era real. O sorriso iluminava-a, iluminando-nos. 
Era assim a minha Mãe. Partiu há um ror de anos. Sem ela os dias nunca mais foram os mesmos. Que saudade, minha Mãe.
Parabéns.

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

As Notícias do Mundo em Cartoon

Cartoon Rodrigo, Expresso
Cartoon Rodrigo, Expresso

HenriCartoon
Cartoon Paul Thomas
Cartoon Paul Thomas
Cartoon Paul Thomas
Dilbert Cartoon

Cartoon  Niels Bojesen, Dinamarca

Glasbergen Cartoon

Daily Cartoon, The New Yorker by David Sipress

Daily Cartoon, The New Yorker by David Sipress

Daily Cartoon, The New Yorker by David Sipress

Cartoon Bandeira, DN

Cartoon Bandeira, DN

Cartoon Chappatte, Le Temps ,Genève, Suisse

Cartoon Chappatte, Le Temps ,Genève, Suisse
Le vignette di ItaliaOggi
Cartoon Chappatte, Le Temps ;Genève, Suisse

Le vignette di ItaliaOggi

Cartoon Mohr

Cartoon Glasbergen

Cartoon Glasbergen
HenriCartoon

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Estes meus amigos


Alguns dos muitos amigos
Por Baptista-Bastos 
"Escrevia daquilo que conhecia, com compaixão e ternura, e assim tem sido até hoje. Quando me irrito e encolerizo, habitualmente é com os donos disto que o faço. Nada de mais.
Revejo-o, agora, debruçado no estirador, de manhã até ao fim da tarde, desenhando ilustrações diversas e diferentes, que irão embelezar textos para o seu jornal de sempre: o Diário Popular. José de Lemos possuía um talento profundo e inimitável, e uma modéstia que chegava a ser irritante. Pequeno, gentil, de hábitos modestos e amizades infinitas, devo-lhe o meu destino e o gosto de amar as coisas singelas. Foi o maior desenhador do Segundo Modernismo, mas nunca atribuiu ao facto importância de maior. Fundador do grande vespertino, só ao fim da vida lhe permitiram ser sócio do Sindicato dos Jornalistas, e receber um ordenado que apenas lhe dava para sobreviver. Nunca se queixou, nunca se lamuriou. Foi "colaborador" à peça, e só não se esfalfava a trabalhar porque amava aquilo que fazia como ninguém: desenhar. Sobretudo desenhar para crianças, seu enlevo e sua devoção. Mas ele ilustrou tudo o que havia e era possível ilustrar para jornal. Era um homem de outro tempo, afligia-o a algazarra, o conflito, o ruído em ou com nexo. O 25 de Abril surpreendeu-o porque adivinhou o termo de uma época e a indecisão do que aí vinha. O turbilhão que se seguiu, a ordem que foi alterada, os novos compromissos e a ascensão inusitada de um grupo de oportunistas horrorizaram-no. O jornal deixou de lhe pertencer, como aconteceu com outros, para ser uma mascarada do que fora.
Não hostilizou ninguém e ninguém o hostilizou: ele estava acima da misturada, e o seu universo não era o daquele mundo confuso e desagradável. Os seus amigos, entretanto, iam morrendo, e as ruas que percorrera, amando-as, já não eram as suas ruas. Por vezes, à tarde, parava na Bénard, saudando este e aquele, os que restaram do seu tempo. Depois, descia o Chiado, passeava um pouco pela Baixa, e ia para casa, em Campo de Ourique.
«Foi na Página Infantil, do Popular, por ele dirigida e orientada, que comecei a escrever contos para miúdos. Falava dos bairros pobres onde vivia, e das pessoas pardas e tristes que os habitavam, sem horizontes e sem esperança. Escrevia daquilo que conhecia, com compaixão e ternura, e assim tem sido até hoje. Quando me irrito e encolerizo, habitualmente é com os donos disto que o faço. Nada de mais.


Pedia-lhe para ilustrar textos meus, e ele dizia "só se forem bondosos"; oferecia-mos e possuo dezenas deles. Mesmo em frente à banca onde escrevo estão alguns, que me observam atentos e sorridentes. Gosto de me sentir acompanhado pelo afecto que eles me transmitem, e me lembram o homem pequeno e gentil que os criou e era meu amigo deveras. Este homem afável e generoso, um dia comprou um chapéu, para o colocar na cabeça, como dizia, quando passava por uma igreja. Anticlerical sereno e cordato, só conheci essa sua tineta, o que não o impediu de ser amigo de alguns sacerdotes, como o padre Dinis da Luz, açoriano, homem de grande cultura e sabedoria, com o qual ele gostava de conversar. Dinis da Luz era do Benfica, redactor do jornal A Voz, e cuja fina ironia se tornava implacável para com os oportunistas. O padre Dinis da Luz deixou, tumularmente, dispersos pelas páginas de vários jornais, entre os quais o Diário Popular, textos admiráveis pelo conteúdo e pela beleza literária. Recordo, com emoção e orgulho, estes meus amigos inesquecíveis.
Assim como lembro José Casanova, antigo director do Avante!, membro do Comité Central do Partido Comunista Português, um dos políticos mais nobres, honrados e dignos que conheci. Foi, até ao remate final dos seus dias, um homem de convicções e de amizades inamovíveis. Há semanas, telefonou-me, para saber de mim, e conversámos durante um tempo das novidades e das indecisões em que vivíamos. Gostávamos um do outro e isso nos aproximava.
José Casanova. Adeus.
 Baptista-Bastos em crónica publicada no Jornal de Negócios, 21.11.2014

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Porto, cidade perfeita


"Wall Street Journal" sugere o Porto para um fim de semana "perfeito"
"A edição europeia do Wall Street Journal dedicou duas páginas à cidade do Porto, que sugeriu como a cidade "fascinante e charmosa", "perfeita para um fim de semana prolongado".
 O Porto está na moda. Muitas têm sido as publicações que têm dado especial destaque à cidade, nos últimos tempos, à "boleia" da eleição do Porto como "Melhor Destino Europeu 2014".
Desta feita, foi a vez da edição europeia do Wall Street Journal dedicar um artigo de duas páginas ao Porto, que considera uma cidade "fascinante e charmosa", "fácil de amar e difícil de deixar".
No roteiro para um fim-de-semana prolongado, a publicação sugere uma visita às "estreitas ruas medievais do centro histórico", às "igrejas góticas" e aos "cafés à beira-rio". "Cada curva revela uma nova faceta de história", diz o jornalista encarregue do artigo, Will Lyons.

"Esta não é uma cidade onde se deve ter pressa. Um par confortável de sapatos é recomendável, pois há algumas subidas íngremes, mas a verdadeira magia do Porto reside em ser uma cidade relativamente compacta", acrescenta. Por isso, o jornalista aconselha os turistas a "largarem o carro" e passearem sem rumo pela cidade velha, "onde galerias de arte e boutiques convivem com livrarias com antiguidades e estendais de roupa, em ruas estreitas".
Para além da edição impressa, uma versão do artigo também está online e circula já pelas redes sociais portuguesas."Daniela Espírito Santo, 21.11.2014 - 16:20,  JN

perfeita

domingo, 23 de novembro de 2014

Ao Domingo Há Música


Canção
A música tem olhos fulgurantes
movendo-se à volta do fogo.
Se és visto por eles tornas-te canto,
tu que és , como tudo é, canto.

(...)

Talvez seja apenas o sonho
de um deus não mais desperto que tu.
Ouve-o dentro de ti, ao deus,
cantando luminosamente à tua volta.
Manuel António Pina, in "Nenhum sítio- Todas as palavras, poesia reunida", Assírio & Alvim, Abril de 2012

Duas gerações. Dois estilos . Duas vozes. E muito talento. Juntaram-se e produziram um registo de extraordinário encanto. Se o tema é religioso ou profano não tem qualquer relevância. Não o eleva nem o apouca. Não. Não decorre dessa especificidade a beleza da melodia, a sonoridade das vozes, a excelência dos acordes ou  a magia do canto. Tudo converge. Tudo redunda num deleite inesperado, cantando luminosamente à nossa volta
Alicia Keys e Kathleen Battle  em Ave Maria e  Not Even The King no  BlackBall, 2013

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Escravatura, a peçonha do Homem

      
   Para falar ao vento bastam palavras, para falar ao coração são necessárias obras
                                                             Padre António Vieira 


Ranking é uma palavra comum que comummente mede numa escala as posições de várias e múltiplas situações. Não sei qual o resultado, em termos de aprendizagem, para os responsáveis pelas situações analisadas. Embora não se conheçam sempre as credenciais dos promotores de um Ranking  , os resultados que surgem são sensacionalmente surpreendentes. Alguns chocam e dilaceram a nossa sensibilidade.A raiva e a indignação tomam-nos. É o caso deste que foi efectuado por uma organização australiana. Medir a escravatura no Mundo. Pensar que a escravatura já tinha terminado e que Portugal fora pioneiro nessa abolição era  ou deveria ser um acto puro de convicção. Mas não terminou. Não. Permanece feroz e vestida de outras  cruéis formas. O mundo transformou-se. Não se redimiu e ainda não se transcende. Os homens continuam a falar ao vento.

Há quase 36 milhões de escravos em todo o mundo
"Há 35,8 milhões de escravos em todo o mundo, o que representa 0,5 por cento da população do planeta. Portugal também aparece no ranking, com 1400 pessoas referenciadas. Os números são da Walk Free Foundation, uma organização australiana de defesa dos Direitos Humanos.Dos 167 países analisados, Portugal ocupa a posição 157. A Índia é o país que regista maior número de escravos: 14,29 milhões num país com 1250 milhões de pessoas. Na maioria as pessoas são usadas para prostituição e trabalho forçado. Mas é na Mauritânia que há um maior número de escravos por habitante, ou seja, quatro por cento.



A Walk Free identifica como escravos todos aqueles que são forçados a trabalhar, que trabalham para pagar dívidas, vítimas de tráfico, de exploração sexual em troca de dinheiro e aqueles que são obrigados a casar. 
De acordo com a Organização Internacional das Migrações, algumas das vítimas são muito novas, com apenas cinco ou seis anos de idade.

O continente com menor número de escravos é a Europa, enquanto a Ásia é o continente com o maior índice. Nos melhores lugares da tabela surgem Islândia, Irlanda e Luxemburgo.

Walk Free pede mais cooperação internacional

À excepção da Coreia do Norte, todos os países do mundo têm leis para combater qualquer forma de escravatura, mas nem por isso os resultados têm sido os melhores.

O relatório, agora apresentado pela Walk Free Foundation, pede mais cooperação internacional, designadamente que os governos aumentem as penas ao tráfico humano e pressionem a iniciativa privada a combater o trabalho forçado ou indigno nas cadeias produtivas.
Para medir as respostas governamentais ao problema foram usados os seguintes factores: apoio às vítimas; mecanismos de justiça criminal; coordenação e responsabilização do governo; atitudes, sistemas sociais e instituições, empresas e governo.


O relatório destaca que a abordagem do governo da Holanda para enfrentar o problema é a mais abrangente. O Brasil está à frente de Portugal, entre os países com respostas governamentais mais firmes, ao encorajar as empresas a pressionarem o fim do trabalho escravo nas diversas etapas nas cadeias de produção.
"Existe a ideia de que a escravatura é um problema do passado ou que só existe em países assolados pela guerra e pela pobreza", diz Andrew Forrest, presidente da Walk Free, no mesmo relatório.
A organização contabilizou  um aumento de pessoas reduzidas à escravatura de 20% face a 2013, não suscitado por um aumento do número de casos mas antes pela aplicação de uma metodologia mais eficaz.
África e Ásia são os continentes com o maior número de "escravos".
Cinco países concentram 61% das pessoas exploradas: a Índia, onde "existem todas as formas de escravatura moderna", surge à cabeça com 14,3 milhões de vítimas, seguida da China (3,2 milhões), Paquistão (2,1), Uzbequistão (1,2) e Rússia (1,1).
Em termos de percentagem de população reduzida à escravatura, a Mauritânia regista a maior proporção de vítimas de escravatura moderna (4%). A escravatura é "hereditária" e "enraizada na sociedade mauritana", explicita o relatório.
Neste cenário particular, seguem-se o Uzbequistão, Haiti e Qatar.
Islândia e Luxemburgo são pelo contrário considerados os países mais exemplares, com apenas 100 vítimas cada um. A França conta com 8.600 casos de "escravatura".
A Europa possui a proporção mais fraca de pessoas exploradas (1,6%), apesar de terem sido detectadas 566.200 pessoas reduzidas à escravatura, frequentemente vítimas de uma exploração sexual ou económica. A Bulgária, República Checa e Hungria lideram os países em piores condições por percentagem de população, numa lista que é liderada pela Turquia, com 185.500 casos.
"Estas conclusões mostram que a escravatura moderna existe em todos os países. Somos todos responsáveis pelas situações mais atrozes em que a escravatura moderna existe”, salienta Forrest." Fonte: RTP e JN

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Poesia do (des)pudor de Inverno


Livro III, versos 59-66
Tende desde já na lembrança que a velhice há-de chegar;
e não deixeis, por isso, esvair-se tempo algum na ociosidade;
enquanto vos for consentido e conservardes, ainda, a idade da Primavera,
gozai; vão-se os anos, do mesmo modo que a água corrente;
nem a onda que passou voltará de novo a ser chamada,
nem a hora que passou logra tornar atrás.
Há que aproveitar a idade. Com passo rápido se escapa a idade,
e não é tão boa a que vem depois, quão boa foi a que veio antes
Ovídio, in " Arte de Amar"


SAUDADE DO TEU CORPO
Tenho saudades do teu corpo: ouviste
correr-te toda a carne e toda a alma
o meu desejo – como um anjo triste
que enlaça nuvens pela noite calma?…

Anda a saudade do teu corpo (sentes?…)
Sempre comigo: deita-se ao meu lado,
dizendo e redizendo que não mentes
quando me escreves: “vem, meu todo amado…”

É o teu corpo em sombra esta saudade…
Beijo-lhe as mãos, os pés, os seios-sombra:
a luz do seu olhar é escuridade…

Fecho os olhos ao sol p’ra estar contigo.
É de noite este corpo que me assombra…
Vês?! A saudade é um escultor antigo!
 António Patrício, in “poesia completa”, Assírio & Alvim, 1980.


O Quarto Em Desordem

Na curva perigosa dos cinquenta
derrapei neste amor. Que dor! que pétala
sensível e secreta me atormenta
e me provoca a síntese da flor

que não se sabe como é feita: amor,
na quinta-essência da palavra, e mudo
de natural silêncio já não cabe
em tanto gesto de colher e amar

a nuvem que de ambígua se dilui
nesse objecto mais vago do que nuvem
e mais defeso, corpo! corpo, corpo,

verdade tão final, sede tão vária,
e esse cavalo solto pela cama,
a passear o peito de quem ama.
Carlos Drummond de Andrade, in "Antologia Poética" , Relógio D'Água

Amor como em casa

Regresso devagar ao teu
sorriso como quem volta a casa. Faço de conta que
não é nada comigo. Distraído percorro
o caminho familiar da saudade,
pequeninas coisas me prendem,
uma tarde num café , um livro. Devagar
te amo e às vezes depressa,
meu amor, e às vezes faço coisas que não devo,
regresso devagar a tua casa,
compro um livro. entro no
amor como em casa.
Manuel António Pina , in " Todas as Palavras , poesia reunida" , Assírio & Alvim,2012

Sorolla

SÓBRIO O TEU CORPO
Sóbrio o teu corpo me pede
penetração: nomes puros:
os de boca, braços, mãos
sobre a terra e sobre os muros.
Sóbrio o teu corpo me pede
nomes justos, nomes duros:
os de terra, fogo e punhos,
claros, acres, escuros.
António Ramos Rosa , in " Ocupação do Espaço", Portugália, 1963
Conheço o sal

Conheço o sal da tua pele seca
depois que o estio se volveu inverno
da carne repousando em suor nocturno.

Conheço o sal do leite que bebemos
quando da boca se estreitavam lábios
e o coração no sexo palpitava.

Conheço o sal dos teus cabelos negros
ou louros ou cinzentos que se enrolam 
neste dormir de brilhos azulados.

Conheço o sal que resta em minhas mãos
como nas praias o perfume fica
quando a maré desceu e se retrai.

Conheço o sal da tua boca, o sal 
da tua língua, o sal dos teus mamilos
e o da cintura se encurvando de ancas.

A todo o sal conheço que é só teu,
ou é de mim em ti, ou é de ti em mim,
um cristalino pó de amantes enlaçados.

Madrid, 16/Janeiro/1973
Jorge de Sena de Conheço o Sal...  in " Poesia de Jorge de Sena", Editorial Comunicação



Carícia

É a caricia da mão na minha face
e o meu olhar repousado
o sorriso que passa
rápido
de mim a ti.

É toda uma ternura que nos chama
é a desolada solidão de quem se ama
e conhece o espaço
que fica
de aqui ali.

É uma inclinação suspensa
por toda a pele que nos limita o corpo
gemido, doçura, pena
como o poema
a chamar por mim.
Salette Tavares (1922-1994), in “ Espelho cego”, 1957

Silêncio Amoroso

Deixe que eu te ame em silêncio.
Não pergunte, não se explique, deixe
Que nossas línguas se toquem, e as bocas
E a pele
Falem seus líquidos desejos.

Deixe que eu te ame sem palavras
A não ser aquelas que na lembrança ficarão
Pulsando para sempre
Como se o amor e a vida
Fossem um discurso
De impronunciáveis emoções.

Affonso Romano de Sant'Anna, in “Os dias do Amor, um poema para cada dia do ano”; recolha, selecção e organização de Inês Ramos; Prefácio de Henrique Manuel Bento Fialho; Ministério dos Livros

Sorolla


para o poema de amor

e uma flauta viscosa
de sopro quente de mosto
de enxuto e duro ( mineral)
som fosco de argila oca

numa audácia de saliva
fermento de melodia
como se pombos-correios
sem um ponto de partida

tivessem escrita a giz
em duas penas de ardósia
a notação dessa ária
para viagem sem volta

 e eu arrancando notas
da pauta de suas plumas
pousando-as sobre o teu colo
e as tuas espáduas nuas

lhes fosse aos poucos juntando
essas outras impelidas
pela cauda do poema
no vento do meio-dia

em rede forte tecida
como os pombos sem vestígio
toda toda te envolvendo 
de saber e de aventura
Vasco Graça Moura, in " modo mudando- Poesia reunida" vol.1 Quetzal Editores, Outubro 2012

Soneto 2
Os trabalhos de amor são os mais leves
de quantos algum dia pratiquei
na cama as alegrias fazem lei
e se me queixo é só de serem breves

eu vivo atado às tuas mãos suaves
num nó de que este corpo já não sai
ferve o arco do sol a tarde cai
ardem voando pelo céu as aves

mágoas outrora muitas fabriquei
e em países salobros jornadeei
ao dorso das tristezas almocreves

a vez em que te amei um outro fui
comigo fiz a paz nada mais dói
e os trabalhos de amor nunca são graves
Lisboa
12-X93, 23-XII-93
Fernando Assis Pacheco (1937-1995) ,in “Respiração Assistida”, Assírio & Alvim, 2003.