terça-feira, 30 de abril de 2013

Cinema , Livros e Fado em Bogotá

Cinema Português chega hoje à Feira do Livro de Bogotá
Lusa 

"A exposição Cinema Português foi inaugurada esta Segunda-feira na Cinemateca de Bogotá, no âmbito da participação de Portugal como país convidado na Feira Internacional do Livro de Bogotá (FILBo), na Colômbia.
Um conjunto de 23 painéis mostra mais de 100 anos da história do cinema português, uma exposição que acompanha a mostra de filmes portugueses que tem vindo a ser feita na FILBo.
Uma conferência sobre o escritor António Lobo Antunes e o lançamento de uma antologia integram o programa da participação portuguesa a decorrer esta terça-feira, na Feira Internacional do Livro de Bogotá (FILBo), na Colômbia.‘Os Cus de Judas: António Lobo Antunes’ é o título da conferência a cargo do professor universitário e especialista no autor português Felipe Cammaert..
O programa de actividades da participação de Portugal inclui ainda uma conversa com a editora, livreira, autora e ilustradora Mafalda Milhões sobre a promoção da leitura e um espectáculo da cantora Mísia sobre Fado e Poesia, onde é mostrada 'a relação íntima entre a poesia portuguesa do século XX e o fado', segundo a organização.
Mísia apresentará, entre outros, os casos de 'Fado Adivinha', de José Saramago, e de 'Nasci para Morrer Contigo', de António Lobo Antunes, ambos do seu repertório.
 Feira do Livro de Bogotá FILBo é  a terceira feira literária mais importante da América Latina depois da de Buenos Aires (Argentina) e da de Guadalajara (México).
A Feira Internacional do Livro de Bogotá, que tem o Mar como mote, começou no passado dia 17 e termina na quarta-feira, 1 de Maio." Notícias ao Minuto

A crise de confiança dos europeus


Em crise, a Europa funciona sobretudo mal
"Na sua quarta edição, o Europa, o suplemento publicado conjuntamente pelos jornais Gazeta Wyborcza, The Guardian, Le Monde, El País, La Stampa e Süddeutsche Zeitung debruça-se sobre a crise de confiança dos europeus relativamente à União Europeia, que, como revelou o último Eurobarómetro, atingiu um ponto alto. Este eurocepticismo, escreve o diário francês, sob as suas múltiplas formas, populismo, nacionalismo, desconfiança, ressentimento, revolta, propagou-se a toda a Europa. Durante muito tempo, foi apanágio dos britânicos. Agora, está na origem da revolta grega, do caos político italiano, da decepção francesa, da frustração dos alemães, sobre os quais, neste momento, se concentra a hostilidade.
Esse sentimento é partilhado por Mario Calabresi, director do diário La Stampa, segundo o qual estamos em ponto morto, sem uma ideia forte, capaz de nos dar esperança e, sobretudo, mais divididos do que nunca. […] A crise da construção europeia e o facto de as nossas sociedades e o nosso modelo social se encontrarem fechados sobre si mesmos fizeram ressurgir os egoísmos e os velhos rancores. A religião única da austeridade não conquistou as mentes mas tornou frios os corações e afastou os povos.
Segundo a análise dos investigadores Mark Leonard e José Ignacio Torreblanca publicada no jornal El País, a razão da situação actual reside, em grande parte, no facto de,com o pacto orçamental e a exigência do Banco Central Europeu de que se levem a cabo reformas de grande amplitude em todos os países, os eurocratas terem ultrapassado muitas linhas vermelhas em matéria de soberania nacional e invadido domínios que vão muito além das normas de segurança alimentar, passando a controlar as pensões, os impostos, os salários, o mercado de trabalho e os funcionários da Administração Pública. Ou seja, domínios que constituem o núcleo dos Estados-Providência e das identidades nacionais. […] Nesta nova situação, os governos sucedem-se mas as políticas continuam a ser basicamente as mesmas, não podendo ser postas em causa.
Será que esta tendência acabará por prejudicar a União? “Toda a gente espera que, com o regresso do crescimento, o eurocepticismo acabe por refluir”, escrevem Leonard e Torreblanca. No entanto, segundo ambos, o entusiasmo europeísta não renascerá, se a UE não mudar radicalmente a sua forma de se relacionar com os Estados-membros e com os seus cidadãos.
Esse “choque de democracias”, essa oposição Norte-Sul, representa de facto a Europa a duas velocidades, de que se falava, no passado, no que se referia à defesa, à política externa ou à livre circulação, salientadirectora-adjunta do diário espanhol, Berna González-Harbour. Essa Europa a duas velocidades é hoje uma realidade trágica, que nem sequer consegue adoptar a forma mais pacífica de duas [linhas] paralelas, que, apesar de nunca se encontrarem, também não colidem. As direcções são divergentes e as duas avançam, na melhor das hipóteses, para o desencontro.
Entretanto, as seis publicações parceiras apresentam algumas propostas para ajudar a UE a sair do impasse, que são resumidas pelo diário britânico The Guardian. Estas vão da eliminação das duas sedes do Parlamento Europeu à constituição de um exército europeu, passando por uma “Eur-app” para tablets e smartphones e por “uma ideia mestra, que dê aos europeus símbolos e objectivos que suscitem emoções, ligação e solidariedade”. Presseurop, 25 Abril 2013

Relatório sobre nutrição infantil


Uma em cada quatro crianças menores de cinco anos sofre de atraso de crescimento
O relatório da UNICEF sobre a nutrição infantil revela melhorias, mas ainda há 165 milhões de crianças com menos de 5 anos com atrasos de crescimento

O relatório Melhorar a nutrição infantil: o imperativo atingível para o progresso global, elaborado pela UNICEF, apela aos países para acelerarem os progressos no sentido de diminuir o número de crianças no mundo que sofrem de subnutrição.A gravidez e os primeiros dois anos de vida das crianças são decisivos para determinarem atrasos no crescimento. A nutrição das mães, o aleitamento materno no nascimento e os suplementos vitamínicos são fundamentais para combater o problema, que pode causar danos físicos e cerebrais irreversíveis.Maus resultados escolares, excesso de peso, doenças crónicas e infecciosas são algumas das consequências mais notórias da subnutrição infantil.Três quartos das crianças que sofrem de atrasos de crescimento vivem na África subsariana e no sul da Ásia. Em 2011, os cinco países onde a situação era mais grave eram: Índia (61,7 milhões), Nigéria (11 milhões), Paquistão (9,6 milhões), China (8 milhões) e Indonésia (7,5 milhões).A Índia, por exemplo, conseguiu fazer alguns progressos. Na região de Maharashtra, 39% das crianças menores de 5 anos sofriam de atrasos de crescimento no período de 2005/2006. No ano passado, este valor desceu para 23%.Na Etiópia, o valor desceu de 57 para 44%. Até o Haiti merece nota positiva, com diminuição de 29 para 22%.Apesar dos progressos feitos por alguns países, a agência da ONU lembra que há um longo caminho a percorrer. O programa Scaling up nutrition é um dos programas da UNICEF que luta contra a subnutrição.A iniciativa mobiliza governos, sociedade civil, empresas, investigadores e particulares que ajudam a pôr em prática políticas que combatem a subnutrição envolvendo as mulheres das comunidades locais, que desempenham um papel fundamental na resolução do problema. Afinal, 20% das grávidas do mundo não têm acesso a consultas médicas pré-natais. “ in Visão solidária

Ler mais: Why 1,000 Days?

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Travessia



A praia quase deserta
a manhã despertando na luz dos elementos
o céu e o mar buscando os seus azuis
as águas que se iluminam lentamente
o vôo preguiçoso das gaivotas
a serenidade de uma vela na distância
as ondas que se quebram mansamente
o enigma dessa paz que só o mar nos concede.

Meus olhos perscrutam o impossível
na invisível beleza marítima da vida.
Minha alma penetra no âmago majestoso da paisagem
e viaja longamente pelo instante mágico do tempo.

Mar, imenso mar
meu olhar flutua na imobilidade do teu corpo iluminado
nestas canoas batidas pela luz ao largo da baía
nestes pescadores curtidos pelo sol e pelo azul
a recolher, de longe em longe, seus frutos de escamas coloridas.
Beijo-te na salgada madeira destes  barcos  recolhidos,
te abraço no velho homem remendando sua rede.

Caminho neste estuante cenário de água e areia
recordo-me menino neste banquete de espumas flutuantes
na frescura das ondas que morrem aos meus pés
mergulho no teu ritmo
e danço contigo no encanto desta valsa milenar.

Atlântico, meu Atlântico
águas que não conheço nas distâncias do horizonte
esse mar visto apenas das areias
da foz exuberante das correntes
da barra destes rios que tu acolhes
águas fundas, águas rasas 
águas doces que cruzei.

Recortados litorais do sul
meu norte
minha praia
meu idioma açoriano
meu salgado fruto
minha fritura, meu peixe, meu pirão
roteiro prematuro dos meus passos
itinerário incansável em meus pés descalços
íntimos recantos de baías e enseadas
antigo esconderijo dos corsários
história nas estórias de velhos habitantes.

Mar, imenso mar
planície total e palpitante
miragem  e sedução
misteriosa  superfície  nos caminhos do destino
o mar de todas as proas
esse território dos meus sonhos.

Navegar, não naveguei...
as águas do Titicaca foram minha gota de oceano no alto da Cordilheira
navegar como quisera navegar, nunca naveguei...
rota costeira de Quayaquil à Callao,
minha única travessia
meu mar sem horizontes
minha comovida migalha de aventura.
                                             Curitiba, Março de 2004
Manoel de Andrade, in “Cantares”, Editora Escrituras, São Paulo, 2007                                                                                                                             

domingo, 28 de abril de 2013

Ao Domingo Há Música


"E se a própria saudade nos inventa,
Não sei talvez quem és mas sei quem sou."

No inventário dos dias, dar tempo ao melhor de Portugal é uma aposta que faz acordar, em cada um  de nós, as raízes de quem somos neste  Abril esmaecido por uma crise virulenta.
 A voz   de Carminho no fado " Talvez", acompanhada por  Luis Guerreiro (guitarra portuguesa), Diogo Clemente (Guitarra Clássica ),  Marino de Freitas (Viola baixo) redimensiona a validade  da excelência no panorama musical.


Talvez digas um dia o que me queres,
Talvez não queiras afinal dizê-lo,
Talvez passes a mão no meu cabelo,
Talvez eu pense em ti talvez me esperes.

Talvez, sendo isto assim, fosse melhor
Falhar-se o nosso encontro por um triz
Talvez não me afagasses como eu quis,
Talvez não nos soubéssemos de cor.

Mas não sei bem, respostas não mas dês.
Vivo só de murmúrios repetidos,
De enganos de alma e fome dos sentidos,
Talvez seja cruel, talvez, talvez.

Se nada dás, porém, nada te dou
Neste vaivém que sempre nos sustenta,
E se a própria saudade nos inventa,
Não sei talvez quem és mas sei quem sou.

Se nada dás, porém, nada te dou
Neste vaivém que sempre nos sustenta,
E se a própria saudade nos inventa,
Não sei talvez quem és mas sei quem sou.

Vasco Graça Moura (letra) e Mário Pacheco( Música)

sábado, 27 de abril de 2013

Do Big Bang ao Planeta Terra

O Big Bang, o princípio do princípio, tem sido alvo de investigação, de estudo, de experiências e de simulacros.  Cientistas, astrólogos, professores, estudiosos, curiosos , todos e muitos  se apaixonaram pela descoberta da  origem, do primeiro dia da gestação deste nosso velho planeta. Milhares de registos, de páginas , de equações , de fórmulas, de imagens e de montagens videográficas existem sobre esta matéria. 
Ficamos ,hoje, com uma simulação do nascimento da Terra e com outro registo da sua beleza  multifacetada .





Ranking de Profissões


Estudo indica que repórter de imprensa é a pior profissão de 2013


"Ser repórter de imprensa é a pior profissão de 2013. A lista foi avançada pelo CareerCast.com, que analisou e listou 200 profissões nos EUA. Melhor estão os atuários, engenheiros biomédicos ou de software, cujas profissões foram consideradas as mais promissoras.
Foi com base em factores como o ambiente de trabalho, o salário, o stress, a exigência física ou a hipótese de contratação, que o site CareerCast considerou o repórter de imprensa como a pior profissão de 2013 nos Estados Unidos, e aquela para a qual as perspectivas futuras são as piores. No entanto, também os lenhadores, militares ou actores foram classificados como tendo as piores profissões.

Os lugares do ranking

As piores profissões:

1. Repórter de imprensa; 2. Lenhador; 3. Militar; 4. Actor; 5. Operário plataforma petrolífera; 7. Técnico de leitura de contadores; 8. Carteiro; 9. Construtor de telhados; 10. Assistente de bordo. 

As melhores profissões:
1. Atuário; 2. Engenheiro biomédico; 3. Engenheiro de software; 4. Técnico de audiologia; 5. Consultor financeiro; 6. Higienista oral; 7. Terapeuta ocupacional; 8. Optometrista; 9. Fisioterapeuta; 10. Analista de sistema informático.
"O trabalho de repórter de imprensa perdeu o seu brilho nos últimos cinco anos e deverá estar extinto até 2020. O modelo de jornalismo impresso não é sustentável", disse ao CareerCast Paul Gillin, antigo jornalista, especialista em media e fundador do site NewspaperDeathWatch.
No texto de apresentação do estudo, os autores norte-americanos referiram que os "resultados são mais do que simples curiosidades". "Ao contrário de muitas outras facetas da vida, os empregos são escolhas que fazemos, e onde podemos ficar ou não. Portanto, uma profissão pode dizer muito sobre a qualidade das nossas vidas", afirmaram.
Para quem quer um dia ingressar no mundo da imprensa, o melhor talvez seja mudar de ideias. Ser atuário, engenheiro biomédico, engenheiro de software ou até higienista oral, são os empregos promissores do futuro."Por Rui Teixeira - jpn@c2com.up.pt Publicado: 26.04.2013 | 19:05 (GMT), in JPN 

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Os europeus perderam a fé no futuro


Onde está o sonho europeu?
Amnésia, recessão, falência das elites, divisões… A Europa livre e solidária, que tanto fez sonhar os povos oprimidos, já não existe e os responsáveis políticos europeus não têm coragem para dizer isso, afirma o politólogo búlgaro Ivan Krastev.
“A União Europeia (UE) já não o é, pelo menos tal como a conhecemos. E a questão não é saber o que virá a ser a nova união, mas o motivo pelo qual a Europa que tanto nos fez sonhar já não existe.
A resposta é simples: hoje, todos os pilares que serviram para construir e justificar a existência da União Europeia ruíram.
Em primeiro lugar, a memória da Segunda Guerra Mundial. Há um ano, foram divulgadas as conclusões de um inquérito realizado junto de alunos dos liceus alemães com idades entre os 14 e os 16 anos. Um terço desses jovens não sabia quem foi Hitler e 40% dos inquiridos estavam convencidos de que os direitos do homem eram respeitados da mesma forma por todos os governos alemães desde 1933. Isto não quer de modo algum dizer que exista uma nostalgia do fascismo na Alemanha. Não: quer muito simplesmente dizer que estamos perante uma geração que não tem o mínimo interesse por essa História. Hoje, é uma ilusão continuar a pensar que a legitimidade da UE tem as suas raízes na guerra.
Os europeus perderam a fé no futuro
O segundo elemento que permitiu o advento geopolítico da União é a guerra-fria. Mas esta também já não existe. Hoje, a UE não tem – e não pode ter – um inimigo como a URSS depois de 1949, que possa justificar a sua existência. Em resumo, a evocação da guerra-fria não pode de modo algum ajudar a resolver os problemas de legitimidade da UE.
O terceiro pilar é a prosperidade. A UE continua a ser um espaço rico, muito rico – apesar de isso não ser válido para países como a Bulgária. Em contra partida, 60% dos europeus pensam que os seus filhos irão viver pior do que eles. Segundo este ponto de vista, o problema não é como vivemos hoje, mas que vida iremos ter no futuro. Portanto, a perspectiva positiva, a fé num futuro melhor, uma poderosa fonte de legitimidade, também desapareceu.
Outra fonte de legitimidade era a convergência – o processo que levou os países pobres que aderem à UE a terem a certeza de que iriam juntar-se progressivamente ao clube dos ricos. Isso ainda era verdadeiro há alguns anos, mas, hoje, se as previsões económicas para os próximos dez anos se confirmarem, um país como a Grécia, em comparação com a Alemanha, continuará a ser tão pobre como no dia em que aderiu à União.
UE comporta-se como um reformado senil
Toda a gente diz que a UE é um projecto elitista. É verdade. Hoje, o problema não é essas elites terem-se tornado antieuropeias, mas o facto de terem perdido qualquer possibilidade de terem peso nos debates nacionais. E o facto de, no fundo, essas elites serem a favor de uma Europa unida deixou de ter qualquer importância, porque ninguém as ouve: essas elites distanciaram-se das pessoas. Se observarmos com atenção os inquéritos sociológicos, veremos que a legitimidade da UE é explicada de formas muito diferentes, consoante nos encontremos no Sul ou no Norte do continente.
Em países como a Alemanha e a Suécia, as pessoas têm confiança na UE, porque também acreditam na boa fé dos seus próprios governos. Em Itália, na Bulgária e na Grécia, as pessoas não confiam nos seus políticos e é por essa razão que acreditam na UE. Qual é a lógica? Apesar de não os conhecerem, os políticos de Bruxelas não podem ser piores que os políticos nacionais. Para dizer a verdade, parece-me que, hoje, até esse sentimento tem tendência a regredir: a última crise é a prova de que essa confiança também foi abalada.
E, para terminar, o último pilar: o Estado social. Não há dúvida de que a existência do Estado social é parte integrante da identidade da UE. No entanto, neste momento, a questão já não é saber se esse Estado social é uma coisa boa ou má, mas se continua a ser viável, numa situação não apenas de concorrência mundial, mas também de uma mudança demográfica de peso na Europa. O problema é que nós, os europeus, estamos a desaparecer. Em 2060, 12% da população da UE terá mais de 80 anos. A Europa está a envelhecer. E não é por acaso que, às vezes, a União se comporta como um reformado senil, na cena internacional. Onde ir buscar o dinheiro para manter vivo esse Estado social indispensável para as pessoas idosas? Às gerações futuras? Acontece que isso já foi feito com a acumulação da dívida pública…
O “nós” europeu ainda por definir
Outra consequência da crise: as novas divisões existentes no continente. No seio da UE, a separação entre Ocidente e Leste já não existe, mas surgiram outras cisões muito mais importantes. A primeira é a existente entre os países da zona euro e os outros. Muitas vezes, quando falam da UE, os franceses, os alemães ou os espanhóis estão realmente a pensar na zona euro. Mas essa divisão não será pertinente, enquanto países de grande importância estratégica como a Suécia, a Polónia e o Reino Unido continuarem fora da zona. A outra divisão de peso é a existente entre países credores e países devedores. Quando a Grécia quis organizar um referendo sobre o resgate do país, a Alemanha apresentou a seguinte objecção: “No fundo, vocês querem fazer um referendo sobre o nosso dinheiro!” Este reparo não é completamente ilegítimo… Nenhum país deve tornar-se refém da zona euro. Acontece que é esse o problema, quando se tem uma moeda comum mas não uma política comum.
Como sair da crise? Se observarmos mais de perto a UE, perceberemos que alguns países estão em crise e outros não – ou são menos afectados por ela. Por outro lado, em alguns casos, a crise teve igualmente efeitos benéficos sobre determinadas práticas. Segundo este ponto de vista, o principal problema de qualquer política é o de criar ganhadores e perdedores – mas isso é coisa que os políticos se abstêm de nos dizer. Não se trata tanto do problema em si: sempre houve perdedores e ganhadores e a questão reside em saber como dar compensações a uns e explicar aos outros que é do seu interesse pôr em prática esta ou aquela política.
Nós ainda pensamos que há políticas que só criam ganhadores. No estado actual da UE, essa ideia continua a ser um desejo piedoso, porque o esquema natural de solidariedade que existe no Estado nacional ainda não existe à escala da União. Além disso, os países da UE não têm todos a mesma história nem a mesma língua. De que está a falar-se, quando se diz “nós” no plano europeu? Para a UE começar a funcionar de uma forma correta, é absolutamente indispensável definir previamente o que é esse “nós” europeu."Ivan Krastev, in  Kultura Sófia, 25 Abril 2013,(Discurso proferido num seminário na Universidade de Sófia, no fim de Março, sobre “A Europa e a crise”.)

quinta-feira, 25 de abril de 2013

No trigésimo nono ano de Abril


" (...)Contarás de Abril as casas de mil sóis , a imponderável descoberta dos sussuros, a brancura inadiável da perseverança, o resplendente varar dos dias, a feira alvoroçada das horas. Contarás de Abril a visão e o visto. Contarás de Abril as mãos dadas. Contarás de Abril o renascer da essencial frescura. 
Contarás de Abril." Baptista-Bastos " Contar de Abril", in" ABRIL, ABRIL, Textos de Escritores Comunistas, (DORL)", Edições Avante, Lisboa 1975
São passados trinta nove anos sobre a data que marcou o resto das nossas vidas. Foi o dealbar de um tempo novo que tardava em chegar. A Liberdade apareceu nas ruas e trôpega foi dando os primeiros  passos   até alastrar  por um país que se via amanhecer  e se deslumbrava com uma revolução em flor. Eram muitos os que por ela tinham lutado, por ela tinham sofrido e por ela tinham morrido.
Desses dias, alguns registos foram feitos. Miguel Torga, resistente, antifascista e um dos maiores poetas do Sec.XX,  escreveu no seu Diário: 
"Coimbra, 25 de Abril de 1974 - Golpe militar. Assim eu acreditasse nos militares. Foram eles que, durante os últimos macerados cinquenta anos pátrios, nos prenderam, nos censuraram, nos apreenderam e asseguraram com as baionetas o poder à tirania. Quem poderá esquecê-lo? Oxalá não seja duradoiramente de parada..."
Coimbra, 27 de Abril de 1974 - Ocupação das instalações da Pide. Enquanto, juntamente com outros veteranos da oposição ao fascismo, presenciava a fúria de alguns exaltados que reclamavam a chacina dos agentes , acossados lá dentro, e lhes destruíam as viaturas, ia pensando no facto curioso de as vinganças raras vezes serem exercidas pelas efectivas vítimas da repressão. Há nelas um pudor  que as não deixa macular o sofrimento. São os outros , os que não sofreram, que se excedem, como se estivessem de má consciência  e quisessem alardear um desespero que jamais sentiram." Miguel Torga, in " Diário XII " , Círculo de Leitores

Zeca Afonso é um dos grandes  cantores portugueses que mais  ergueu  a voz contra a tirania e a repressão exercidas pela Ditadura. Foi preso, perseguido e muitas das suas canções foram proibidas. Nunca deixou de compor, de cantar e de afrontar o Poder. "Grândola", canção que, na actualidade, é também um hino , serviu de senha para a marcha da Revolução. 
Neste  aniversário do 25 de Abril, recordá-lo é um dever honroso.
Do Álbum " Eu vou ser como a toupeira " (1972) extraiu-se a canção "No comboio descendente". O poema é de Fernando Pessoa e a Música de Zeca Afonso. Participaram também neste Álbum: Teresa Silva Carvalho, Carlos Alberto Moniz, José Jorge Letria e José Niza. A produção e a direcção musical são de José Niza.
O  vídeo, que se apresenta, resulta de um desenho original de João Abel Manta sobre Fernando Pessoa.


No comboio descendente

No comboio descendente
Vinha tudo à gargalhada.
Uns por verem rir os outros
E outros sem ser por nada
No comboio descendente
De Queluz à Cruz Quebrada...

No comboio descendente
Vinham todos à janela
Uns calados para os outros
E outros a dar-lhes trela
No comboio descendente
De Cruz Quebrada a Palmela...

No comboio descendente
Mas que grande reinação!
Uns dormindo, outros com sono,
E outros nem sim nem não
No comboio descendente
De Palmela a Portimão

Poema de Fernando Pessoa/ Música de Zeca Afonso

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Um sonho revolucionário


Ah, se não fosse a realidade!
DE SÃO PAULO
Por Ferreira Gullar
“Estava assistindo a um programa de televisão onde eram entrevistados alguns artistas de teatro e cinema. Um deles, que foi entrevistado isoladamente, e que não era brasileiro, demonstrou sua profunda decepção com o momento actual e especialmente com sua geração, desinteressada da revolução.
Por isso mesmo, sentia-se isolado, uma vez que, no seu entender, a sociedade actual é inaceitável e teria que ser varrida do mapa. Não deixou claro que outra sociedade seria posta no lugar desta, mas certamente nada teria a ver com o capitalismo.
Em seguida, falou uma jovem actriz que, embora não tão radical quanto o anterior, também lamentou o facto de que a sua geração, ao contrário da de seus pais, não sonha com a revolução, nem pensa nisso.
O entrevistado seguinte, um pouco mais velho, também lamentou a falta de espírito transformador que impera hoje, quando as pessoas só pensam em seus próprios interesses, indiferentes aos problemas que tornam nossa sociedade inaceitável.
Enquanto os ouvia, me veio à lembrança uma conversa que tive, faz já algum tempo, com uma jovem universitária. Tinha ido à UFRJ fazer uma palestra e ela ficara de me trazer de volta para casa.
Deu-me o exemplar de um jornal do PC do B e perguntou o que eu achava das ideias desse partido. Respondi que não estava muito actualizado com o que aquele partido pregava mais recentemente mas, no passado, opunha-me a seu radicalismo exagerado. Ela não gostou de ouvir isso e defendeu o radicalismo como a única maneira de levar à mudança da sociedade capitalista.
Sem pretender travar polémica com a moça, mas puxado por ela a discutir o assunto, argumentei. Com cuidado, perguntei-lhe se não lhe parecia bastante difícil fazer uma revolução comunista, hoje, depois de tudo o que aconteceu no mundo.
Veja bem --disse eu-- o sistema socialista, liderado pela URSS, chegou a ser a segunda potência militar e económica do mundo e ainda assim, fracassou. Acha você que, agora, quando já quase nada existe daquele poder, é que vocês aqui no Brasil vão fazer a revolução e recomeçar tudo de novo? --perguntei-lhe.
-- E por que não?, disse ela. A URSS seguiu o caminho errado. Lembrei-lhe que a China, que tinha divergência com os soviéticos, também mudou e tornou-se agora um país capitalista. A resposta dela foi que a China nunca tinha sido de fato comunista. -- E Cuba? Cuba é que está certa? Mas a coisa por lá não anda muito bem. -- Aquilo ali não é socialismo, respondeu ela.
Fiquei olhando-a, sem entender. Então tudo o que aconteceu, desde a revolução de 1917, estava errado, nada daquilo era o verdadeiro socialismo? Sim, era isto o que ela afirmava ali, dentro daquele carro.
O verdadeiro socialismo era o do PC do B, embora seja ele hoje um partido sem maior expressão na vida política brasileira e tudo o que conseguiu foi ocupar o Ministério dos Esportes nos governos do PT. E logo o Ministério dos Esportes! Se há uma coisa que sempre esteve fora da preocupação do PC do B foram exactamente os esportes, que certamente viam como pura alienação...
Ao comentar essa conversa com o professor que me convidara a fazer a tal palestra, ouvi dele que, dos 30 alunos que compunham aquela turma, quase todos, senão todos, se diziam comunistas.
Admito que fiquei realmente surpreso. Que pessoas de minha geração, por terem militado na esquerda, ainda se mantenham fiéis àquelas convicções ideológicas, dá para entender. Mas jovens, que nasceram após o fim do sistema socialista, insistirem num sonho revolucionário que há muito já se dissipou, é, no mínimo, surpreendente.
Mas tampouco dá para entender a tese daquela mocinha para a qual tudo o que houve e ainda resta com o nome de comunismo não deu certo porque não era o verdadeiro comunismo. Ou seja, se fosse, teria dado certo. Pensando assim, ela se sente à vontade para acreditar em algo que não precisa acontecer para existir. A conclusão é que esse pessoal não dá muita bola para a realidade.
Agora mesmo, apareceu na internet um documento, supostamente assinado pelo PC do B, PT e outras entidades, solidarizando-se com a Coreia do Norte, que estaria sendo ameaçada pelos belicistas norte-americanos. Pode?” Ferreira Gullar em Artigo de Opinião publicado na  Folha de S. Paulo, em 20/04/2013

terça-feira, 23 de abril de 2013

Dia Mundial do Livro


Os Que Queimam os Livros
"Os que queimam os livros, que proscrevem e matam os poetas, sabem rigorosamente o que fazem. O poder indeterminado  dos livros é incalculável. É indeterminado precisamente  porque o mesmo livro, a mesma página pode ter efeitos inteiramente díspares sobre os seus leitores. Pode exaltar ou aviltar; seduzir  ou repelir; intimar à virtude ou à barbárie; expandir a sensibilidade ou banalizá-la. Em termos extremamente desconcertantes, pode fazer uma e outra coisa, quase no mesmo momento, num impulso de resposta tão complexo, tão rápido na sua alternância e tão híbrido que nenhuma hermenêutica,  nenhuma psicologia poderá predizer ou calcular a sua força. Em diferentes momentos da vida do leitor, um livro despertará reflexos inteiramente diferentes. Não há na experiência humana fenomenologia  mais complexa do que a dos encontros entre texto e percepção, ou, como Dante notou, entre as formas da linguagem  que excedem  o nosso entendimento e as ordens de compreensão frente às quais a nossa linguagem se revela insuficiente: la debilitate de lo’nielleto e la cortezza del nostro parlare.
(…) O encontro com o livro, como com o homem ou a mulher, que vai mudar a nossa vida, muitas vezes num instante de reconhecimento que se ignora , puro acaso talvez. O texto que nos converterá a uma fé, nos ligará a uma ideologia, dará à nossa existência um fim e um critério, podia estar à nossa espera nas prateleiras da estante de ocasião, dos livros desbotados  ou dos saldos. Pode estar ali, poeirento e esquecido, numa prateleira de estante exactamente ao lado do volume de que andamos à procura. A sonoridade estranha das palavras impressas na capa envelhecida pode deter o nosso olhar: Zaratustra, Westoslicher Divan, Moby Dick, Horcynus Orca. Enquanto um texto sobrevive, algures à face da terra, ainda que num silêncio que nada vem quebrar, continua susceptível de ressureição. Walter Benjamin ensinava–o, Borges elaborou a sua mitologia: um livro autêntico nunca é um livro impaciente. Pode esperar séculos até despertar um eco vivificador. Pode estar à venda  com cinquenta por cento de desconto numa estação de comboio, como o primeiro Celan que por acaso descobri e abri. A partir desse momento fortuito, a minha vida transformou-se, e eu tentei aprender “ uma língua a Norte do futuro”.
Trata-se de uma transformação dialéctica. As suas parábolas são as  da Anunciação e da Epifania. Conhecemos tão mal  a génese da criação literária! Não temos por assim dizer qualquer acesso à neuroquímica possível do acto de imaginação e dos seus procedimentos. Até mesmo o rascunho informe de um poema é já uma etapa muito tardia na viagem que conduz à expressão e ao gesto performativo. O crepúsculo , o “ antes da madrugada” e as pressões no sentido da expressão que se exercem no subsconsciente são para nós quase imperceptíveis. Mais concretamente: como é possível que alguns traços  sobre uma tabuinha de argila, riscos de pena ou de lápis que muitas vezes mal chegam a ser legíveis num frágil pedaço de papel, constituam uma persona – uma Beatriz , um Falstaff, uma Anna Karenina- cuja substância, para um sem-número de leitores ou espectadores, excede a própria vida na sua realidade, na sua presença fenomenal, na sua longevidade social e encarnada? ( Este enigma da persona fictícia,  mais viva, mais complexa do que a existência do seu criador e do seu “receptor” – que homem ou que mulher tem a beleza de Helena, a complexidade de Hamlet, ou é tão inesquecível como Emma Bovary? –tal é a questão decisiva, mas também a mais difícil, da poética e da psicologia.)
(…) O conceito de leitura,  encarado como um processo que na sua raiz releva da colaboração , é convincente.  O leitor  sério trabalha com o autor. Compreender um texto , “ ilustrá-lo”  no quadro da nossa imaginação, da nossa memória e da nossa representação combinatória, é, na medida dos nossos meios , recriá-lo. Os maiores leitores  de Sófocles e de Shakespeare  são os actores e os encenadores que dão às palavras a sua carne viva. Aprender um poema de cor é encontrá-lo a meio-caminho na viagem sempre maravilhosa da sua chegada ao mundo. Numa “ leitura bem feita”  (Péguy), o leitor faz dele qualquer coisa de paradoxal: um eco que reflecte o texto, mas que lhe responde  também  com as suas próprias percepções, as suas necessidades e os seus desafios.  As nossas relações de intimidade com um livro são, portanto, efectivamente dialécticas e recíprocas : lemos o livro, mas, mais profundamente talvez, é o livro que nos lê.” George Steiner, in “ Os Logocratas”, Relógio D’Água Editores

segunda-feira, 22 de abril de 2013

A Família


A Família é também Paternidade, Maternidade, Filiação
"O filho não é uma síntese de uma tese e de uma antítese, pai e mãe. A filiação é uma dimensão do próprio pai e da mãe. O pai concebe o filho, a mãe gera-o, engendra-o e o pai aprende a engendrá-lo depois. No nosso mundo nada disto se passa com clareza  e por isso nos podíamos perguntar para onde vamos ou que estamos a constituir nestas interrelações.
Não está, aqui, em causa se a sociedade é mais patriarcal ou  matriarcal. O patriarcado ou o matriarcado não destroem a família, são constituições diferentes. O que está em causa é o nosso modelo mental e a nossa atitude que leva a criar sociedades de património ou de matrimónio. O património é o encargo e a transmissão dos bens , bens de família, bens de consumo. O matrimónio é o encargo pela vida . Importam-nos os bens que se passam de pais a filhos, mas deviam-nos importar mais as comunidades responsáveis pela vida. É sempre dar lugar a um exercício de paternidade e  maternidade que a nossa sociedade tende a esvaziar. Nas famílias grandes, passadas,  a criança que perdia os pais era praticamente e automaticamente adoptada pelo tio, irmão etc.. É evidentemente importante a regulação do poder paternal, de quantos dias, de quanto se paga, de quem cura o quê; mas esvaziando o afecto. Por que é que ninguém regula o afecto, ninguém adopta como gente a tempo inteiro, de casa inteira? Estes filhos, órfãos com pais vivos, também não vão adoptar, na sua revolta; mas vão ser pais órfãos de filhos vivos.Paternidades e maternidades doentes.
E a questão que se coloca é como se passa de uma sociedade de património  a uma sociedade de matrimónio?" Vasco Pinto Magalhães

domingo, 21 de abril de 2013

Ao Domingo Há Música


Plenos poderes

Tão pacientes fomos
para sermos
que anotámos
os números, os dias,
os anos e os meses,
os cabelos, as bocas que beijámos,
e aquele minuto antes de morrer
deixá-lo-emos sem anotação:
damo-lo aos outros como lembrança
ou simplesmente à água,
à água, ao ar, ao tempo.
E de nascer tão pouco guardámos
a memória.
Ainda que importante e jovial
tenha sido a nossa vida;
e agora não te lembres sequer
do mais pequeno pormenor,
não guardaste sequer um ramo
da primeira luz.

Sabe-se apenas que nascemos.

Um nó é dado com o fio da vida,
Nada, não ficou nada na tua memória
do mar bravio que ergueu uma onda
e derrubou da árvore uma maçã sombria.

Não tens mais recordações que a tua vida.
Pablo Neruda 


"Cada passagem  de uma composição musical actua sobre nós , quer queiramos  quer não, por meio de uma expressão emocional." Milan Kundera

Pablo Neruda e Milan Kundera elevam a palavra em diferentes planos. Burilam-na, vestem-na, adornam-na em contornos de plena sedução e se lhe juntarmos , neste Domingo, um dos dias da Música,  o génio de Beethoven, atingir-se-á a perfeição.
Eis o segundo movimento (Allegretto) da 7ª Sinfonia em A Maior, Opus 92 de Beethoven numa excelente interpretação da Royalty Free Classical Music Symphony Orchestra dirigida pelo Maestro  Dr. Keith J. Salmon.

sábado, 20 de abril de 2013

Eventos Culturais e Prémios Literários



Na viragem para o século XIX, emerge uma nova sensibilidade, que vai marcar decisivamente os cem anos seguintes. A exaltação do indivíduo e da subjectividade  a redescoberta da cultura medieval por contraposição aos mitos greco-romanos que tinham modelado a cultura renascentista, a libertação dos sentimentos e a apologia das paixões por contraposição à ditadura da razão, são o terreno explorado pelos românticos. A ironia e a melancolia são figuras deste estado de dúvida e de anseio, de crítica distanciada da sociedade e de sonho de qualquer coisa de novo. «Preciso da alma, qualquer coisa que me conduza à beira do abismo», escreveu Renan, e qualquer romântico subscreveria esta afirmação. O “impulso romântico” é, em primeiro lugar, esse ímpeto em direcção a uma cultura da libertação, que politicamente encontrara a sua justificação na Revolução Francesa de 1789. Mas, com o tempo, e muito por força do impacte do romantismo sobre a cultura oitocentista, a expressão ganhou um outro sentido, que se prolonga até aos dias de hoje, restringindo-se cada vez mais ao plano afectivo: é romântico o enamorado, o apaixonado, o sonhador, o utopista.
Na sua sétima edição, a realizar em Abril de 2013, o festival Dias da Música em Belém aborda O Impulso Romântico nestas duas vertentes: a histórico-musical e a popular. De Beethoven a Rachmaninov, de Chopin a John Lennon, de Berlioz à chanson d’amour francesa, propõe-se um itinerário musical que nos mergulha nas raízes do Romantismo e detecta a persistência do sentimento romântico, erudito ou vulgar, até aos nossos dias. É uma forma de nos perguntarmos o que é hoje, para nós, o Romantismo; ou seja, se ainda se pode ser romântico no século XXI?
N.º DE CONCERTOS E PREÇOS - São 60 concertos em 7 salas.
HORÁRIOS -  Sexta-feira, 19 Abril > o Concerto Inaugural tem início às 21:00, o Grande Auditório abrirá as portas uma hora antes do início do concerto.
Sábado, 20 Abril > abertura do recinto às 13h00
Domingo, 21 Abril > abertura do recinto às 12h00
Mais informações>> clique aqui

Músicas do Mundo: Perfumes Otomanos

O Ensemble Al-Kindî regressa ao Grande Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian com um novo programa que parte do reportório da tradição oral árabe na Síria, Egipto, Iraque e Tunísia, e que assenta no património comum às músicas árabe, turca e persa no final do século XVII.
Jacinto Lucas Pires vence Grande Prémio de Literatura DST
O Grande Prémio de Literatura DST foi atribuído ao escritor Jacinto Lucas Pires, com a obra «O verdadeiro actor». Com um valor pecuniário de 15 mil euros, o prémio é já uma das principais distinções na área da cultura em Portugal, e será entregue ao autor na abertura da Feira do Livro de Braga, evento que tem o grupo DST como principal patrocinador.
De acordo com a deliberação do júri, presidido por Vítor Aguiar e Silva, a distinção atribuída à obra de Jacinto Lucas Pires justifica-se pela «agilidade e segurança nas narrativas, a par da elaboração formal em que relevam elementos de apuramento estético e inovação, que confirmam o autor como um dos nomes a valorizar na ficção portuguesa do presente».
Nascido no Porto a 14 de Julho de 1974, Jacinto Lucas Pires reside actualmente em Lisboa e é um dos valores mais seguros no actual panorama literário nacional, onde se destacou com os títulos «Perfeitos Milagres» (romance, 2007), «Do Sol» (romance, 2004) ou «Universos e Frigoríficos» (1998). Em 2008, foi galardoado com o Prémio Europa-David Mourão Ferreira, atribuído pela Universidade de Bari e pelo Instituto Camões.
O Grande Prémio de Literatura DST, que este ano contou com 120 obras de prosa a concurso, é promovido anualmente, tendo como grande objectivo a distinção da melhor obra nacional publicada no biénio anterior. No sentido de abranger um maior espectro na produção literária, alterna todos os anos entre obras em prosa e poesia.
Para José Teixeira, presidente do Conselho de Administração do Grupo DST, a instituição deste prémio «revela o empenho que mantemos no apoio e na promoção da cultura portuguesa, estimulando de forma decisiva a produção literária em Portugal», frisando que «a importância que este galardão já atingiu no panorama cultural nacional torna-o incontornável e uma responsabilidade que o Grupo DST todos os anos honra e vai prosseguir com redobrado entusiasmo». No final deste ano será publicado o regulamento para o concurso de 2013, que receberá a concurso obras de poesia publicadas no biénio 2011/2012.
«O verdadeiro actor» conta a história de uma personagem grotesca, o actor Américo Abril  confuso com os diversos papéis que desempenha na vida — pai cansado, artista sem inspiração, marido pisado e amante infeliz — e no cinema — onde encarna Paul Giamatti, o seu alter-ego. Em pano de fundo (em sintonia intrigante com o momento actual , Portugal em estado de alerta: «Não há nem um gesto, a mínima sugestão de violência. Só o peso da multidão portuguesa, de braços para baixo, corajosos ombros contra as portadas constitucionais. Nem uma palavra mais dura sequer, apenas uns milhares, um milhão, de almas usando o peso da maneira mais sóbria. Ombros, testas, coxas, imaginem. Começa».in Diário Digital | 18/04/2013
Exposição Ocupações Temporárias
De África à Europa.

A sala do piso-1 da Fundação Gulbenkian tem até dia 26 maio a exposição documental Ocupações Temporárias que reúne pintura, vídeos originais, escultura e um grafitti gigante, peças concebidas por vários artistas africanos de língua oficial portuguesa.
L'écrivain américain Adam Johnson remporte le Pulitzer du roman
Par LEXPRESS.fr, publié le 16/04/2013 à 14:54
Le roman sur la Corée du Nord The Orphan Master's Son a reçu le prix Pulitzer du roman 2013.
L'écrivain américain Adam Johnson a reçu le Prix Pulitzer du roman 2013 pour The Orphan Master's Son. L'ouvrage se déroule en Corée du Nord, et raconte l'histoire d'un enfant qui grandit dans un orphelinat.
Le prix de la catégorie "poésie" a été attribué à Sharon Olds, pour Stag's Leap. Tom Reiss a été récompensé du prix pour la meilleure biographie pour The Black Count: Glory, Revolution, Betrayal, and the Real Count of Monte Cristo, biographie du Général Dumas, père d'Alexandre Dumas.
Les prix Pulitzer, remis cette année pour la 97e fois, sont les principales récompenses culturelles et médiatiques décernées aux Etats-Unis. Les vainqueurs se voient attribuer 10 000 dollars. Les prix seront remis le 30 mai.


Des nouvelles du Goncourt
Par LEXPRESS.fr, publié le 04/04/2013 à 11:40
L'Académie Goncourt a sélectionné quatre recueils pour le Goncourt de la nouvelle 2013.
L'Académie Goncourt a sélectionné quatre ouvrages en compétition pour le prix Goncourt de la nouvelle 2013, qui sera décerné le 7 mai prochain:
- Camaraderie (L'Olivier), de Matthieu Rémy

En 2012, le Goncourt de la nouvelle avait été attribué à Didier Daeninckx pour L'Espoir en contrebande (Cherche-Midi).

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Em Nome da Terra



“ Em Nome da Terra ”, romance de Vergílio Ferreira, tem a forma de  uma longa carta escrita por um homem, um juiz, à sua mulher, Mónica, que já morreu. Uma intensa carga emocional atravessa toda a carta que foi escrita no fim da vida desta personagem. 
João, o juiz, tenta reconstituir o passado que , por vezes , surge quase irreal , mas pejado de sensualidade e de questões em torno do envelhecimento. O amor que nutre pela mulher é eterno, embora a incerteza da sua morte perpasse na reconstituição de um passado vivido que deixou marcas profundas.
"Querida. Veio-me hoje uma vontade enorme de te amar. E então pensei: vou-te escrever. Mas não te quero amar no tempo em que te lembro. Quero-te amar antes, muito antes. É quando o que é grande acontece. E não me digas diz lá porquê. Não sei. O que é grande acontece no eterno e o amor é assim, devias saber. Ama-se como se tem uma iluminação, deves ter ouvido. (...) Ou como quando se dá uma conjugação de astros no infinito, deve vir nos livros."
“Com amor, ternura, lavo-te. É o teu corpo sem ti. Mas  tenho a memória inteira para te reconstituir ao apelo do meu sofrimento.(...)Tenho nas mãos a memória do teu corpo, do boleado doce do teu corpo. As pernas, os seios, deixa-me encher as mãos outra vez. O fio ardente da tua pele. A face. Mal te vejo os olhos, mas o teu olhar cai sobre mim em torrente. (…)Espera, deixa-me ver-te devagar. Dás uns passos, bates uma palmada no chão e sobes alto e lá no ar dás uma volta sobre ti, mas antes de caíres de pé, imóvel, fico a ver-te parada no ar. Corpo elástico, esguio, fico a ver-te. Flutuas imponderável, a Terra não tem razão sobre ti. Vejo-te no espaço, todo o corpo elástico numa curva dos pés até ao extremo das mãos, ou talvez não, recomeça o salto para ver melhor. Talvez o corpo não em prancha ao alto mas enrolado sobre si e giras no ar em rodízio até te desenrolares e caíres depois em pé firme. Queria dizer-te como isso me maravilhou, o teu corpo poderoso, desprendido das coisas, liberto da sua condição bruta, feito de um esplendor imaterial. Terei dito bem? Imaterial. Quanta coisa havia nele, os teus ossos, as tuas vísceras, mas tudo existia leve e eu só lhe via a sua forma perfeita de voo. Há uma órbita da exactidão como se diz dos astros e tu seguia-la, um rigor matemático com que o universo existe. (…) Bati palmas, elas ressoaram pelo espaço do Olimpo. Não fui bem eu que as bati mas o duplo de mim, não te sei explicar. As palmas foram à frente e eu já não as pude apanhar. Porque o homem, minha querida, tem sempre em si um outro de si e só num tarado é que os dois coincidem. Também não sabia bem porque o fiz, agora sei. Claro, havia a destreza, a perfeição da tua realização, mas agora sei que havia outra coisa. Queria dizer-te simplesmente que havia o teu corpo, mas não chega. Havia outra coisa – que coisa? Mónica, minha querida. Havia, deixa-me pensar. Ah, poder falar do teu corpo. Perder o pé da realidade. Fechar à volta uma cortina para que nada de ti me fugisse e ficar eu só diante de ti. Sinto agora alguém dentro de mim a perguntar e depois? que é que aconteceu? Sei lá o que aconteceu, quero lá saber. Quero é estar contigo no nada do tudo o que acontecer. Saturar-me da tua presença. E ver-te. E ver-te. Que importa o que «acontece»?
(...)E vão sendo horas enfim de descermos ao rio. Amanhã talvez? Hoje. Um dia. Estará uma noite quente, caminharemos de mãos dadas. O anjo não virá, que teria lá que fazer? Vamos sós. Não terei medo da tua presença com toda a sua força de me ajoelhar. Olharei o teu corpo na sua transparência incorruptível. Sofrerei em mim a descarga do universo e não gritarei o teu nome. Porque estará em mim e eu hei-de sabê-lo. A areia brilhará de uma luz pálida, pisá-la-emos devagar a um impulso fortíssimo e lento. Estaremos nus desde o início, sem vergonha anterior. Nudez primitiva, não a saberemos. Porque será uma nudez para antes de os deuses nascerem. Então mergulharemos nas águas do rio e deitar-nos-emos na areia. E olharemos o céu limpo e sem estrelas. E acharemos perfeitamente natural, porque a iluminação estará em nós. Erguer-nos-emos por fim e eu baixar-me-ei ao rio e trarei água na concha das mãos. E derramá-la-ei imensamente devagar sobre a tua cabeça. E direi para toda a história futura, na eternidade de nós
- Eu te baptizo em nome da Terra, dos astros e da perfeição.
E tu dirás está bem. » Vergílio Ferreira, in “ Em Nome da Terra”, Quetzal, 10ª edição, 2009

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Dia Internacional dos Monumentos e Sítios

18 de Abril, Dia Internacional dos  Monumentos e Sítios

"O Icomos Internacional (Conselho Internacional dos Monumentos e Sítios) escolheu como tema para a comemoração do Dia Internacional de Monumentos e Sítios de 2013, o Património da Educação, tendo em conta o imenso legado existente em todo o país, resultante de uma aprendizagem e do conhecimento, materializados em numerosos obras no âmbito da arquitectura, criando um património a conhecer e a defender.Deste modo a Direcção-Geral do Património Cultural propôs uma programa que inclua um conjunto de actividades atractivas para o público, subordinado ao tema Património + Educação= Identidade, dentro do espírito de que o futuro depende muito do reforço das identidades e de que a educação, e os diferentes patrimónios que plasmam o conhecimento, são contributos insubstituíveis para esse fim."Fonte:Hardmusica


Apresentada em Loulé a Rota de Al-Mutamid
"A Rota de Al-Mutamid, a nova rota turístico-cultural relacionada com a história do Andalus, mais concretamente tendo como fio condutor a memória histórica do Rei Al-Mutamid e abarcando o território transfronteiriço da Andaluzia e do Algarve será apresentada a 18 de Abril na Alcaidaria do Castelo de Loulé.
Trata-se de uma rota que faz parte do Grande Itinerário Cultural do Conselho da Europa “Rotas do Legado Andalusino”.
A sua consolidação implica, entre outras, a instalação de pontos de informação ao longo do percurso.
No Algarve, as torres da Alcaidaria do Castelo de Loulé, um dos monumentos mais interessantes do percurso, pertencente à Direcção Regional de Cultura do Algarve, mas gerido em parceria com o Município de Loulé, cujo Castelo tem instalado o Museu Municipal de Arqueologia, é um dos monumentos seleccionados.
De salientar que o Museu Municipal de Arqueologia de Loulé encerra já um notável acervo de peças do período islâmico.
Serão apresentadas as linhas gerais da instalação deste ponto de informação, que visa incentivar a exploração da Rota por parte dos públicos do Museu e, paralelamente, estimular o conhecimento do legado islâmico de Loulé e a descoberta de outros atractivos da cidade e do Concelho." Fonte:Hardmusica